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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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se fosse ele a terra eleita, a única fonte de sucesso possível e, sobretudo, a qualidade pessoal<br />

inalterável, intransferível, mas transportável para além das fronteiras e das propriedades. Que o<br />

estrangeiro seja um trabalhador pode parecer um paradoxo fácil, deduzido da existência tão discutida<br />

dos “trabalhadores imigrados”. Entretanto, conheci num vilarejo francês camponeses ambiciosos,<br />

vindos de uma outra região, mais laboriosos do que os outros e querendo “fazer o seu canto” com o<br />

suor do seu rosto, odiados por serem tanto intrusos quanto obstinados e que se faziam tratar (o<br />

cúmulo do insulto durante uma briga) por... portugueses e espanhóis! De fato, confidenciavam eles,<br />

os outros (no caso, a palavra designava os franceses seguros de si) jamais se obstinavam tanto no<br />

trabalho (Kristeva, 994: 25).<br />

Segundo Kristeva, o estrangeiro trabalhador é mais esforçado que o trabalhador<br />

nativo, pois nada tem além da sua energia, da sua esperteza e da sua vontade de sacrifício<br />

com vistas à obtenção de lucro. Os filhos dos imigrantes, no entanto, são afetados com<br />

freqüência pela aculturação; isto é, pode, neles, haver relaxamento no afã laborioso por<br />

emulação aos trabalhadores nativos, ou mesmo por desafio aos progenitores.<br />

As colocações de Kristeva resultam, contudo, algo confusas, ou imprecisas, porque<br />

ela não traça com clareza as diferenças entre estrangeiro não-imigrante e o imigrante. A<br />

necessária diferenciação entre ambas as categorias, assumida por Sayad, foi ignorada por<br />

Kristeva, quem centrou as suas reflexões na descrição da psique e da circunstância social<br />

do estrangeiro genérico e não assinalou os desdobramentos nele.<br />

III. 3. A aculturação positiva segundo Todorov<br />

Tzvetan Todorov inicia O homem desenraizado, 1999 127 , comentando a angústia<br />

que lhe produzia um sonho recorrente em que ele, durante uma estadia em Sofia após longa<br />

ausência, descobria que não poderia regressar a Paris, onde residia como estrangeiro nãoimigrante<br />

ou “exilado circunstancial”. Todorov comenta (1999: 16) que o exilado, de<br />

retorno no país natal, não é de todo semelhante ao estrangeiro turista em visita, “nem<br />

mesmo ao estrangeiro que ele foi, no momento em que debutou no exílio”, porque uma<br />

longa estadia no país receptor fizera com que o exilado se transformasse ao ter convivido<br />

com uma outra sociedade e ter acumulado duas culturas.<br />

De fato, a inexistência de mudanças após uma longa estadia no exterior refletiria,<br />

segundo Todorov, um fracasso, isto é, a impermeabilidade para a evolução e, portanto, uma<br />

capacidade nula para se enfrentar a uma ausência. Ele exemplifica essa opinião com uma<br />

127 O título original é L'homme dépaysé. Foi publicado em Paris em 1996.<br />

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