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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Rangel considera que a canção, além de conter a sobreposição de ritmos espanhóis e<br />

brasileiros, é um paradigma da interferência do português sobre a língua espanhola dos<br />

imigrantes. O autor expressa também o assombro que lhe causou ter observação, na canção,<br />

a presença de palavrões e de expressões por ele entendidas como obscenas, o qual é<br />

interpretado por ele não como sinal de má-educação, desrespeito e provocação, senão como<br />

a manifestação natural de traços peculiares da idiossincrasia espanhola. Assim, ele<br />

comenta:<br />

O texto que anexamos apresenta-se tal como foi obtido segundo a cópia que nos cedeu um dos<br />

“murguistas”. Traz todos os erros e defeitos com que se apresentava no original. Só assim, aliás,<br />

representa documento de valor para quem o deseje estudar de outros pontos de vista. Para nós se<br />

oferece, principalmente, como documentário original de aculturação, mostrando em que grau se<br />

penetram os espanhóis catanduvenses pelas opiniões, sentimentos, idéias e interesses dos grupos<br />

nativos com que se encontram em contato. Para os filólogos e lingüistas, os versos oferecem uma<br />

mostra das alterações que o português pode experimentar diante duma língua tão próxima como a<br />

espanhola e cujo processo deve ser bem diverso do que acontece entre línguas muito diferentes. Aí<br />

estão misturadas, ao lado do espanhol estropiado, tantas expressões brasileiras e portuguesas, que se<br />

tem uma boa mostra do intercruzamento lingüístico que vai modificando bastante o português de São<br />

Paulo. Adotando brasileirismos característicos (lero-lero, burrologia, marmiteiro, macacada e outros<br />

termos, verdadeiras gírias) e palavras portuguesas, por outra mostra o texto, em relação ao espanhol,<br />

as alterações da variada espécie (gráficas, fonéticas, sintáticas) que vai sofrendo no novo meio, ou<br />

por causa do esquecimento e desuso, ou pelos desgastes conseqüentes ao contato com o português e<br />

italiano, ou por efeito das confusões mentais que o bilingüismo produz que estão adotando outros<br />

meios de expressão.<br />

[...] Por nosso lado queremos lembrar, apenas o característico psicológico nitidamente obsceno que<br />

marca todo o texto. Para quem já conviveu com o espanhol de classe modesta, não constitui surpresa,<br />

aliás, dado o gosto que tem por palavrões violentos que ressumam a mais franca sexualidade. Muitos<br />

estranharão que tais palavras tenham sido cantadas publicamente, perante massas humanas, nas ruas,<br />

em carnaval, duma das melhores cidades do Estado. Hão de lembrar, entretanto, a exaltação<br />

carnavalesca dos sentidos e a linguagem semi-espanhola que não permitia que todos entendessem<br />

tudo (Rangel, 1951: 433-34).<br />

Dessa murga Rangel diz que os seus componentes tinham uma extração humilde.<br />

Na sua visão, os que decidiram integrá-la eram imigrantes que, por um lado, havendo<br />

fracassado no seu sonho de fazer América, projetavam o seu ressentimento na provocação<br />

inerente tanto à aparência do rancho quanto às letras das suas canções. Rangel acredita que<br />

esses imigrantes, por outro lado, recorrendo à murga, fundiam, igualando-as, a sua<br />

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