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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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general Humberto Delgado. Houve, pois, alguns episódios em que um pequeno grupo de<br />

portugueses residentes em Belo Horizonte se mobilizou para mostrar publicamente o seu<br />

repúdio ao salazarismo. O primeiro desses episódios envolveu o Prof. Rodrigues Lapa,<br />

então docente da Universidade de Minas Gerais. Em junho de 1959, Manuel Rodrigues<br />

Lapa, residente em Belo Horizonte, trocou correspondência com o general Humberto<br />

Delgado, asilado então no Rio de Janeiro 164 . Trata-se de duas cartas; o assunto de ambas foi<br />

a visita do general à capital mineira. Na carta remetida por Lapa, datada em Belo Horizonte<br />

aos 5 de junho de 1959, ele, por um lado, admoesta Delgado a respeito da inconveniência<br />

do comparecimento do general em Belo Horizonte devido tanto à falta de<br />

representatividade dos integrantes do grupo organizador da visita quanto à pouca sintonia<br />

da colônia portuguesa na cidade com essa visita. Por outro, ele justifica a sua ausência em<br />

Belo Horizonte durante a visita que lá fará o general. Na carta de Lapa lê-se:<br />

Do grupo fazia parte aquele Virgulino (sic), de que lhe falei no Rio, por ocasião do almoço na<br />

Maison de France. Logo vi tratar-se de uma rapaziada, um pouco no ar, que não tinha atrás de si<br />

nada de consistente e que pouco ou nada representava, pois os portugueses de maior importância na<br />

sociedade belorizontina conservaram-se distantes, ou por serem salazaristas ou por não confiarem<br />

nos tais rapazes, armados em líderes da Oposição.<br />

[...] Como, porém, surgiram circunstâncias que me obrigam indispensavelmente a sair amanhã,<br />

sábado, de Belo Horizonte, para só voltar na terça-feira, escrevo-lhe esta carta para cumprimentar e<br />

lhe fazer esta respeitosa advertência. Quanto a mim – e nesta opinião acompanham-me muitos<br />

portugueses aqui no Brasil – V. Excia. só poderá encontrar no Rio e em São Paulo uma minoria de<br />

democratas suficientemente ampla e valiosa, para dar à sua presença aquele cunho de grandeza e<br />

dignidade que a missão de que está investido necessariamente lhe impõe. Nos outros pontos do país,<br />

por agora ainda não. Há todo um trabalho delicado a fazer de aliciação política que tem de ser feito<br />

pela persuasão e não pela violência. Enquanto isso não se fazer, é arriscado para V. Excia. e para a<br />

causa que defendemos entregar-se nas mãos de criaturas que não estão à altura das suas<br />

responsabilidades.<br />

Por enquanto, é só isto que tenho a dizer-lhe. Faça agora (sic) o que lhe aprouver (Carvalhal, 1986:<br />

81) 165 .<br />

164 Uma parte da correspondência de Humberto Delgado durante o seu exílio brasileiro – 1959-1963 – foi<br />

reunida e publicada por Luís Abreu de Almeida Carvalhal (1986), então presidente da Associação Humberto<br />

Delgado, em A verdade sobre Humberto Delgado no Brasil – cartas inéditas, notas e comentários.<br />

165 Lapa referia-se a Virgolino [sic] Pereira Vilhena, presidente da Divisão de Minas Gerais da Associação<br />

Humberto Delgado, e representante em Belo Horizonte, a partir de janeiro de 1960, do periódico Portugal<br />

Democrático. Aos 10 de junho de 2005, ele foi qualificado como sujeito destacado do Centro da Comunidade<br />

Luso-Brasileira de Belo Horizonte por Manuel Frederico Pinheiro da Silva, Cônsul de Portugal em Belo<br />

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