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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Entre os estudiosos do DRIL, não há unanimidade na exposição de quais foram os<br />

objetivos do seqüestro do Santa Maria. Assim, na sua avaliação da trajetória do DRIL,<br />

Xavier Navaza (1991: 40) expôs que: “A acción tiña un obxectivo exclusivamente<br />

propagandístico: daba conta, perante o mundo, do nacemento dunha organización<br />

encamiñada á loita contra as dictaduras de Franco e Salazar en España e Portugal,<br />

respectivamente”. Na auto-entrevista inédita que Victor Velo, filho de Pepe Velo e ele<br />

mesmo um comando da operação, se fez [Xosé Velo e o “Santa Maria”, “Santa<br />

Liberdade” – Operação “Dulcinea” ou Operação “Compostela” –, Passados 36 anos], ele<br />

explica que o objetivo era desembarcar primeiro na ilha de Fernando Poo, de onde os<br />

comandos portugueses partiriam rumo a Angola, pois Henrique Galvão asseverara que, em<br />

Angola, ele teria condições para criar uma base 323 . Expõe Victor Velo (1996: 18):<br />

P: Como surge a idéia da que foi conhecida por Operação Dulcinea?<br />

Em abril de 1960 Velo apresenta a idéia, de como realizar a terceira operação, a alguns companheiros<br />

hespanhóis mais ligados à Direção do DRIL. A operação que devia obedecer àqueles pré-requisitos<br />

consistia no seqüestro de um navio cujo destino seria a costa da África. Em alto mar, próximo à Ilha<br />

de Fernando Pó – naquela época uma colônia espanhola –, seria feito o desembarque dos comandos.<br />

323 O capitão português Henrique Galvão, chefe dos comandos portugueses que participaram na terceira<br />

operação do DRIL e representante, na Venezuela, do Movimento Nacional Independente de Libertação –<br />

movimento aglutinador da oposição portuguesa chefiada pelo general Humberto Delgado, exilado desde o 21<br />

de abril de 1959 no Brasil –, publicou a sua visão dos fatos sobre essa operação fazendo parte de um livro<br />

intitulado Minha cruzada pró-Portugal (Galvão, 1961), em que relata a sua luta contra o salazarismo, desde<br />

que se decepcionara com o regime que apoiara até que na década de 1950 se enfrentou diretamente a ele e se<br />

incorporou, do seu exílio na Venezuela, ao DRIL. A versão que Galvão oferece do seqüestro do Santa Maria<br />

ignora a intervenção de Pepe Velo – o diretor geral – na operação. Por um lado, Velo só é mencionado uma<br />

vez em toda a narração de Galvão; trata-se de uma menção nominal, pois se lhe resta qualquer participação<br />

decisiva nos fatos. Por outro, Galvão escolheu para essa menção o apelido de Velo, Junqueira de Ambia.<br />

Henrique Galvão não informa da ideologia iberista que, segundo Velo, inspirou o DRIL, e justifica a presença<br />

de comandos espanhóis no seqüestro, qualificados como membros da Unión de Combatientes Españoles<br />

(UCE), pela ausência de comandos portugueses suficientes para levar adiante a operação, ficando, além do<br />

mais, ignorado o viés galeguista que envolvia a ação dos comandos espanhóis. O destaque entre os espanhóis<br />

dá-lho Galvão a José Fernando Fernández Vázquez, referido por Galvão como “Jorge de Sotto Mayor”. Por<br />

sua vez, os objetivos da operação são apresentados por Galvão (1961: 104-05) como se segue: “SEGUNDA<br />

FASE: Com as forças que tínhamos organizadas e com aqueles tripulantes que, sabíamos, se uniriam a nós<br />

depois de tomado o navio, atacaríamos de surpresa a ilha de Fernando Pó, em operação noturna de<br />

“comandos”. Aí nos apoderaríamos de uma canhoneira e das autoridades superiores da Guiné espanhola,<br />

isolando ao mesmo tempo a ilha de todas as comunicações com o exterior. Já com forças indígenas, que nos<br />

seguiriam, lançar-nos-íamos sobre a parte continental da colônia. Com novas forças que aí juntaríamos, a<br />

canhoneira e lanchas de desembarque – tudo em operações muito rápidas e surpresivas, realizadas no máximo<br />

de três dias – e com dois, possivelmente três, aviões colhidos na ilha e no continente, atacaríamos Luanda, às<br />

cinco horas da tarde, com o concurso de forças rebeldes locais, numa operação envolvente de ‘comandos’,<br />

apoiada pela canhoneira. Objetivo: a conquista e libertação de um território português, onde poderíamos<br />

formar um governo e donde, com recursos bastantes, poderíamos desencadear a guerra contra o regime<br />

salazarista. Para isso contávamos com a sublevação imediata de Moçambique e com a sublevação da própria<br />

metrópole”.<br />

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