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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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civilização, valeu, entre 1952 e 1955, ao estrangeiro Rafael López, seis confiscos dos seus<br />

escritos e seis detenções, além de um internamento por seis meses no manicômio de<br />

Juqueri, em São Paulo, de onde só saiu pela pressão do deputado socialista Cid Franco, da<br />

Assembléia Legislativa paulista, quem se baseou, para a apologia da normalidade do<br />

detendo, no atestado de sanidade dos psiquiatras que o submeteram aos testes.<br />

Na reportagem acima mencionada de Guilherme de Almeida, não se menciona a<br />

selva como o espaço natural do homem livre, mas, com uma expressão tremendista,<br />

acentuam-se os efeitos denigritórios que produz nos imigrantes a submissão aos meios de<br />

produção. Na visão de Almeida, no caso dos imigrantes espanhóis, a dedicação deles ao<br />

trabalho anulava as felizes e intensas nuanças flamencas do seu atavismo, convertendo-os<br />

em força de trabalho acoplada à miséria das ínfimas ocupações em que eles se empregaram:<br />

Volto-me, brusco. Noite na Espanha de São Paulo. Mas noite que não caiu do céu: subiu dos telhados<br />

rasteiros, negríssimos dos gasômetros, e veio vindo, numa fuligem fosca de crepe, que se esgarçou<br />

toda no ar baixo. Noite de hulha. Noite preta e pobre que riscou o carvão irônico de Goya. Noite<br />

realista de uma Espanha sem rondalhas nem luar de prata nas flores de azahar. Noite de fechar as<br />

portas dos armazéns, de acender a lâmpada elétrica dos armazéns... A lâmpada elétrica triste,<br />

tristíssima, atrás dos vidros sujos das bandeiras, pendurada num fio de moscas sobre a escrivaninha<br />

do guarda-livros, e parada, amarela, idiota, entre sacas e réstias, toda assombrada de teias de aranha...<br />

(Almeida, 1962: 64).<br />

Na história da imigração no Brasil a conexão entre os trabalhadores estrangeiros e o<br />

movimento anarquista esmoreceu a partir da década de 1930; as massas de imigrantes<br />

chegadas na década de 1950 não reativaram esse movimento nem influenciaram nas<br />

organizações operárias então existentes. Isto é, a apatridia dos imigrantes não foi a causa do<br />

surgimento sindicalismo revolucionário internacionalista brasileiro, mas favoreceu a<br />

incorporação deles nessa militância. Todavia, a perda de vínculos com a pátria e a falta de<br />

identificação com o país receptor não favoreceram o compromisso da mão-de-obra<br />

estrangeira com as organizações sindicais e políticas nacionais.<br />

A assunção do desterro<br />

O imigrante, embora seja um sujeito expatriado, não pode passar toda a sua<br />

indeterminada estadia no exterior detestando a sua vida no desterro. Embora ele possa<br />

acusar de ignominiosa a conjuntura que o forçou a emigrar, ele tem que se responsabilizar<br />

pela vida cujo seguimento aceitou e na qual se mantém. Se ele declara que a existência<br />

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