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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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O processo cíclico da elghorba inicia-se, pois, quando, de uma posição nacional, se<br />

cria uma disposição à rejeição do desenvolvimento de um projeto vital longe da pátria, pois<br />

só na pátria se encontram os caminhos para a autêntica felicidade. Nesse estádio, a<br />

elghorba envolve azarado fado. A impossibilidade da realização dos projetos na pátria abre<br />

o espaço das retificações à ilusão de uma estada no exterior. Crê-se que, nessa estada,<br />

poder-se-ão conseguir os meios para a auferibilidade do projeto vital ao acontecer o<br />

retorno. A elghorba perde, assim, as suas marcas de desarraigo e reveste-se de matizes<br />

vinculados à fantasia da fortuna.<br />

Contudo, quando a vida na elghorba se materializa e a quimera de um triunfo<br />

garantido, rápido e fácil, se esboroa, a representação final da elghorba funde-se com as<br />

primeiras imagens. É então quando a elghorba passa a ser sentida pelo migrante como<br />

ubíqua e o anseio que causou a migração se deslocaliza e perde a sua ligação com um único<br />

ponto de chegada. As razões do trânsito do migrante e, por parte desse sujeito, a assunção<br />

com indiferença ou por identificação com a aventura, de qualquer destino em que se possa<br />

satisfazer a aspiração aos proveitos simbólicos do ganho material expressou-as, como se<br />

segue, José Maria Ferreira de Castro no seu prólogo ao romance Emigrantes:<br />

Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, da país para país, em busca de pão e<br />

de um futuro melhor. [...] Alguns, porém, não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e<br />

que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas,<br />

como o resto do mundo, para fruição de uma minoria. E eles, mordidas as almas por compreensíveis<br />

ambições, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais às que desfrutam os<br />

homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente a continente, de<br />

hemisfério a hemisfério, em busca do seu pão. Mas, em todo o Mundo, ou em quase todo o Mundo,<br />

vão encontrar drama semelhante, porque semelhantes são as leis que regem o aglomerado humano.<br />

Não esmorecem, apesar disso. Continuam a transitar de olhos postos na luz que a sua imaginação<br />

acendeu, enquanto os mais ladinos, aproveitando todas as circunstâncias favoráveis ou criando-as<br />

até, fazem oiro com a ingenuidade dos ingênuos (Castro, [1928] 1954: 13).<br />

Nesse exílio, provisório, mas com freqüência durável, é projetada, por parte das<br />

sociedades de emigração e de imigração, a ilusão da neutralidade política. Trata-se de uma<br />

neutralidade, em palavras de Sayad (1999: 19), que não só se exige do imigrante, senão que<br />

“se impõe ao próprio fenômeno da imigração (e da emigração), cuja natureza<br />

intrinsecamente política é mascarada, quando não é negada, em proveito de sua única<br />

função econômica”. Há, pois, implicações políticas dentro da lógica da ordem da imigração<br />

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