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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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percorreu algumas regiões do Brasil e publicou, no país e em espanhol, um livro – Un<br />

turista en el Brasil – contendo as suas impressões de viagem. No livro ele inseriu as<br />

fotografias que tirara 433 .<br />

433 Um outro galego, desta vez com residência permanente no Brasil, Pascual Núñez Arca (1949), publicou,<br />

com o título De Quitandinha a Bogotá passando por Buenos Aires, um conjunto de reportagens sobre duas<br />

conferências pan-americanas por ele cobertas como jornalista. O livro também contém as reportagens de<br />

Núñez Arca sobre duas viagens que ele fez pela América do Sul. Uma delas refere-se à Colômbia, onde<br />

assistiu ao bogotazo durante a conferência pan-americana. A outra é sobre a Argentina. Ele considera a<br />

América uma prolongação da Europa “em todos os sentidos”, embora frise que os seus povos nacionais, ao<br />

estarem em formação, têm necessidades diferentes às dos países europeus. Nesse sentido, Núñez Arca não<br />

encontra no Brasil nada que possa ser qualificado como alheio ou diferente do europeu, ou seja, como<br />

“exótico”. Destinou o seu livro aos leitores brasileiros interessados em conhecer detalhes tanto da vida dos<br />

povos dos países hispano-americanos quanto da orientação que seguia a política internacional desses países;<br />

através desses leitores, Núñez Arca declara que visava, na medida do possível, propagar sugestões para a<br />

melhora das relações inter-amaricanas. Em De Quitandinha a Bogotá passando por Buenos Aires, em<br />

primeiro lugar, por um lado, trata a Conferência Interamericana “Conferência de Quitandinha” – a<br />

Conferência do Hotel Quitandinha –, acontecida em Petrópolis, de l5 de agosto a 2 de setembro de l947, que<br />

reuniu 2l Estados americanos com vistas à definição de uma política comum para a defesa e segurança do<br />

continente, havendo-se assinado o “Tratado Interamericano de Assistência Recíproca”. Por outro lado, o<br />

jornalista Núñez Arca cobriu a “IX Conferência Interamericana”, um outro marco do pan-americanismo,<br />

celebrada em Bogotá, de 30 de março a 2 de maio de 1948, em que se adotou a Carta da OEA e foi aprovada<br />

a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. As anotações do autor sobre essas duas<br />

conferências combinam a reportagem in loco, contemporânea aos eventos, e as ponderações a posteriori,<br />

elaboradas da distância dos debates e marcadas pela desilusão gerada pela inconseqüência da retórica do panamericanismo,<br />

projeto inócuo, incapaz de ir além do pacto de defesa continental, e frustrado no<br />

desenvolvimento de planos voltados à solução dos problemas socioeconômicos. Com as anotações sobre a sua<br />

estadia em Bogotá, elaborou uma resenha sobre as causas e conseqüências do bogotazo e uma outra sobre<br />

traços distintivos da civilização colombiana. Interessa-nos a perspectiva do autor, por se tratar de um galego<br />

que opta, para a redação das suas crônicas e reportagens, pela assunção de uma posição em que não<br />

transpareça a sua posição de imigrante espanhol no Brasil. Ele, como autor, de fato, neutraliza a sua<br />

naturalidade e avoca a causa do pan-americanismo, apresentando-se como um apátrida que se atribui a causa<br />

da defesa dos interesses ibero-americanos dentro do pan-americanismo. Nuñez Arca faz, inclusive, uma<br />

revisão da sua trajetória como jornalista que, acreditamos, poderia ser entendida como uma manipulação, pois<br />

ele, na introdução do livro, tergiversa os destinatários da imprensa que ele dirigiu, imigrantes espanhóis<br />

principalmente, ao asseverar que essa imprensa bilíngüe almejava a repercussão “continental”: “Há mais de<br />

vinte anos, das colunas dos jornais brasileiros e nos mais lidos da América, venho sustentando o lema de que<br />

as boas relações culturais e de boa vizinhança, são o ponto de partida para uma era de fraternidade e de paz<br />

sincera, onde a alavanca principal não sejam as cambiais nem os valores, que emperram a engrenagem da vida<br />

dos povos dificultando sua independência econômica. Durante muitos anos, nos jornais bilíngües por nós<br />

redigidos – ‘La Raza’ e ‘Gaceta Hispana’ – fizemos divulgação de noticiário e literatura continental, de<br />

preferência brasileira, traduzindo seus melhores escritores. Nesse sentido, também editamos ‘Letras<br />

Brasileñas’, uma nutrida revista distribuída em todas as Universidades da América, por intermédio de cuja<br />

leitura se deram algumas aulas de literatura brasileira” (Núñez Arca, 1949: 7). Núnez Arca comenta que as<br />

três publicações periódicas que editou, La Raza, Gaceta Hispana e Letras Brasileñas, foram fechadas pelo<br />

DIP em decorrência da “Lei de Nacionalização da Imprensa”, ao serem consideradas publicações estrangeiras,<br />

inclusive Letras Brasileñas, apesar do seu título e da matéria nacional que nela se incluía. Ele ressalta que<br />

com o feche dessa revista – “única tentativa séria de divulgação da cultura brasileira em idioma espanhol para<br />

as nações dessa língua, sem ajuda oficial alguma” – se causou um grande dano às relações de intercâmbio<br />

literário que o idioma espanhol facilitava e acusa, sem indicar nomes, a políticos e funcionários do governo de<br />

Getúlio Vargas, que “não era democrata”, de ter dificultado o estreitamento das relações com os outros países<br />

ibero-americanos. Essas relações, no entanto, teriam sido reavivadas após a entrada do Brasil na guerra contra<br />

as potências do Eixo. Então, segundo Núnez Arca (1949: 8): “Porém, depois do acordo do rompimento com o<br />

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