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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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da intuición. Os fumes, algún feio mercante, un castelo no roquedo, lixaban o sedán tecido,<br />

mancaban a fina pel do coor (Otero, 1952: 62).<br />

Otero assumiu o rol de observador atento da cidade que visitava, e achou a urbe, e o<br />

seu contorno, fora do comum. Ele, no entanto, não teve tempo para se sentir estranho como<br />

estrangeiro no Rio de Janeiro, pois ele foi um passageiro em trânsito, nem creu necessário<br />

se referir à capital brasileira como destino dos emigrantes galegos. Otero devia saber que a<br />

sua sumária crônica carioca – oito páginas –, a não ser que ele remetesse a obra – Por os<br />

vieiros da saudade – aos seus contactos brasileiros, dificilmente seria lida no Brasil. Outros<br />

turistas, autores de poemas ou narrações sob a inspiração de uma viagem, almejaram tanto<br />

satisfazer o horizonte de expectativas dos leitores do seu país, quanto contentar, com a sua<br />

apreciação crítica do vivenciado durante a estadia, os potenciais consumidores do espaço<br />

em que transcorrera a viagem.<br />

O Brasil do turista Daglio<br />

A obra Kodak, El Brasil ante mi lente, do uruguaio Andrés Daglio (1951) é, para a<br />

compreensão das diferenças entre o imigrante e o turista, paradigmática. Ela contém três<br />

apresentações, redigidas por comentaristas amigos de Daglio – um brasileiro, um uruguaio<br />

e um francês –, nas que se aprecia o mérito outorgado às impressões de viagem do autor<br />

pelo fato de elas partirem da mirada de um turista estrangeiro.<br />

A primeira dessas introduções foi datada em São Paulo, aos 15 de março de 1951,<br />

por Guilherme de Almeida. Almeida, o autor da reportagem Um carvão de Goya, publicada<br />

aos 21 de abril de 1929, em que são retratados alguns imigrantes espanhóis em São Paulo<br />

destacando-se a sua alienação no trabalho e a sua avidez pelo lucro, estereotipa o turista<br />

como um estrangeiro capaz de notar o que os nativos não enxergam.<br />

Para Almeida o estrangeiro-imigrante só se preocupa pelo trabalho; nele empenhase<br />

para gerar o pecúlio que justifique a sua ausência da sua pátria. Esse estrangeiro é, nesse<br />

sentido, ou desprezível, ou digno de comiseração por se obcecar com a meta primária da<br />

sobrevivência e com a obtenção da fortuna material. Mas, para Almeida, o estrangeiroturista<br />

deve ser louvado se, do seu distanciamento, oferece, aos nativos, quadros ou<br />

panoramas sobre aspetos do Brasil por eles não adivinhados. Diz Almeida:<br />

Só o Kodak do turista sabe ver. Ver as coisas que, por muito apaixonados vêem mal, ou, muito<br />

habituados, já não vêem os olhos nativos.<br />

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