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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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muitos homens sem ética, desprovidos de toda significação moral, estranhos em todos os países, sem<br />

afeto para nada nem para ninguém, dizemos – são os “sem pátria”. E, contudo, a têm e dela se<br />

recordam, e, queiram ou não, estão ligados a ela e, precisamente por seu rebaixamento, é a p´tria –<br />

sensação física – a única que os sitúa no mundo, e não a raça, nem a nação, nem o Estado, que são<br />

valorizações intangíveis, espirituais, metafísicas, que enchem o âmbito da pátria em largas projeções<br />

do passado e do futuro (Las Casas, 1937b: 12-13)<br />

No capítulo IV – A expressão da pátria nos evangelhos –, nega Las Casas (1937b:<br />

81) a racionalidade da diluição, por parte do pensamento marxista, dos conceitos “pátria” e<br />

“nação” nos termos “mundo” e “humanidade”, respectivamente, diluição que ele qualifica<br />

como um “tópico sentimental” e que crê consistir em um subterfúgio para esconder, sob o<br />

intuito desvirtuado da obtenção de uma “fraternidade universal”, o que na realidade se<br />

almeja: a submissão das nações “à ditadura tirânica do proletariado”. Nesse sentido, critica<br />

a manipulação que os “propagandistas do marxismo” fazem do cristianismo:<br />

E porque conhecem a extensão imensa do cristianismo e o seu peso decisivo nas zonas populares, nas<br />

quais com mais entusiasmo fazem os seus trabalhos de captação, porque sabem da autoridade<br />

multissecular da Igreja, quando pregam a sua mentirosa fraternidade universal, a sua absurda<br />

negação de fronteiras, a sua criminosa negação da pátria – negação que um dia lhes servirá para<br />

realizar as mais monstruosas traições – asseguram cinicamente que os seus postulados estão<br />

redigidos com as próprias palavras de Cristo, e que a sua ansiada e impossível amalgama de pátrias,<br />

tem sua defesa no amplo e augusto sentido ecumênico da Igreja Romana. O respeito às<br />

diferenciações humanas inspira a mais constante tradição cristã e a própria multiplicidade das línguas<br />

– base das mais profundas disparidades – é, para nós católicos, um castigo de Deus que pesa e pesará<br />

sempre sobre os homens desde o episódio da Torre de Babel.<br />

Cristo não pregou nunca a fusão dos povos, e o papado, fiel a esta doutrina, não só deixa para as<br />

nossas disputas os negócios de relação mútua, como afirma um dos deveres de todo bom cristão: o<br />

serviço ao Estado e a defesa da nação (Las Casas, 1937b: 81-82).<br />

Na exegese dos Evangelhos que faz Las Casas, Cristo é visto como um sujeito que<br />

sente e assume a sua pátria – Belém – e, como nazareno, pelo jus sanguinis e pelo jus soli,<br />

identifica-se com a Galiléia e sente e ama a sua nação hebréia, embora ele predique a<br />

prática da virtude entre os homens de todas as raças, com independência da sua<br />

nacionalidade. Nessa interpretação, o autor frisa que ele acha estar claramente expressado<br />

nos evangelhos que Cristo era um patriota consciente das diferenças entre o povo judeu e os<br />

estrangeiros e, como tal, nem ele nem os seus discípulos visaram nem um idioma único<br />

nem a criação de um Estado único com uma nação única, pois o reino que ele predicava<br />

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