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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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diferentes. É claro que a migração é um fato social complexo em que o emigrante – aquele<br />

que saiu da sociedade própria – é também o imigrante – aquele que chegou a uma terra em<br />

que ele é estranho –. Perante essas duas ordens solidárias da migração, resolveu-se para esta<br />

tese que o ponto de partida da investigação sobre a produção cultural desses migrantes<br />

galegos seria a da sua localização brasileira: os galegos não seriam observados como<br />

emigrantes da Galiza que foram ao Brasil – os indianos ou brasileiros – senão como<br />

trabalhadores galegos assentados no Brasil; isto é, a perspectiva inicial não seria a da saída<br />

senão a da recepção e a da estada.<br />

O contato com os imigrantes permite entender as sutilezas da sua memória seletiva a<br />

respeito da Galiza. A aflição, os remorsos e saudade são sensações que podem aparecer<br />

quando não se está na Galiza e a formação de pareceres sobre o que semelha se ter<br />

definitivamente perdido pode se tornar uma prática dolorosa. Alguns dos imigrantes<br />

galegos do Brasil lembram, ou esquecem, acontecimentos e experiências da sua vida na<br />

Galiza segundo se configure e aja o habitus da sua existência no Brasil.<br />

Às vezes, nos momentos de infortúnio e de ressentimento, se idealiza a pátria – ou a<br />

aldeia – abandonada, desejando regressar a ela e arrependendo-se por tê-la deixado; outras,<br />

perante o triunfo alcançado, evoca-se arcadicamente a Galiza – ou um cantinho particular<br />

da nação/ terrinha –, acreditando, contudo, ter acertado ao optar por uma nova vida no país<br />

do futuro cuja identidade o imigrante acaba tornando sua. Não se duvida da bonança da<br />

Galiza e, se possível, mantém-se o elo com o clã, porém crê-se que não se errou na tomada<br />

de decisão, pois no lugar de nascença não se teriam descoberto as mesmas oportunidades<br />

para a construção de uma reconhecida trajetória de ascensão libertadora. Recorda-se, e<br />

ama-se, a Galiza, mas a vida tem-se no Brasil.<br />

O imigrante abraça, simultaneamente, a sua galeguidade, a sua hispanidade, a sua<br />

brasilidade e, até, o seu modo europeu de ser ocidental. Mas também há outras<br />

possibilidades; uma delas, talvez não a mais rara, é a de uma pretendida ruptura decidida<br />

com o imediato passado, e a simulada miscigenação total no país receptor, o país da<br />

acolhida. Esse seria o caso da assimilação, no qual a cultura pré-migratória do sujeito<br />

desaparece, a priori, por completo. As conversas, as espontâneas, e as marcadas e formais,<br />

com os protagonistas do êxodo fazem despontar visões multifacetadas e interpretações<br />

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