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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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outorguem um tratamento diferente ao do seu estatuto de imigrante, isto é, que, na prática,<br />

ele seja, pelo Estado de direito, considerado com igualdade de tratamento.<br />

Sayad (1998: 46) adverte que o imigrante “só é admitido ora como provisório (de<br />

direito), com a condição de que esse ‘provisório’ possa durar indefinidamente, ora como<br />

definitivo (de fato), com a condição de que esse ‘definitivo’ jamais seja enunciado como<br />

tal”. A visão e a interpretação de Sayad, embora partam de pesquisas de campo e análises<br />

bibliográficas relativas aos imigrantes magrebinos na França nas sete primeiras décadas do<br />

séc. XX, deriva em conclusões apresentadas como parcialmente aplicáveis a todos os<br />

fenômenos migratórios caracterizados pela ida de mão-de-obra do Terceiro Mundo a<br />

Estados dominantes. Poder-se-ia considerar que Sayad ousou teorizar sociologicamente<br />

sobre as essências dos processos migratórios com base, tão só, em dados correspondentes a<br />

um breve período, limitados aos deslocamentos humanos de uma colônia e, após 1962, excolônia<br />

– Argélia –, à sua metrópole.<br />

Um contemporâneo de Sayad, Jean Baudrillard, salienta aspetos de um outro<br />

processo migratório, o empreendido em direção aos Estados Unidos de América desde<br />

diversos países. Ele crê que esses aspetos não são exclusivos dessa república e ressalta que<br />

as conseqüências da recepção dos imigrantes não se reduzem aos problemas causados pela<br />

presença indefinida de mão-de-obra estrangeira.<br />

No ensaio América, Baudrillard (1986) reflete acerca de se a modernidade surgida<br />

nos Estados Unidos, sem que houvesse preocupação por a assentar sobre um repertório<br />

composto de princípios de verdade, constitui, por si mesma, a realização de uma utopia<br />

expurgada da sua gênese e da sua diacronia. Para Baudrillard, nos Estados Unidos não se<br />

cultiva a origem, ou a autenticidade mítica, e não houve passado, nem há verdade<br />

fundadora, nem território ancestral.<br />

Portanto, para a sua conformação como nação, América, como Estado virtual nas<br />

suas origens, recebeu, sem se importar, povos sem origem e sem autenticidade, os quais<br />

souberam explorar essa situação até o fim. América, como Estado de imigrantes, teria<br />

operacionalizado ideais e modelos que os cidadãos não-imigrantes – os que ficaram na sua<br />

pátria – cultivaram como objetivo derradeiro e, por conseguinte, secretamente impossível.<br />

Assim, ter-se-ia produzido o simulacro perfeito das quimeras do “velho mundo” a partir de<br />

uma hiper-realidade. Nesse caso, os “cidadãos-novos” não tiveram que se submeter aos<br />

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