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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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“Dos povoadores oriundos do norte português, sabemos os seguintes: Da Galliza: Jorge de<br />

Barros Fajardo, Gaspar Gonçalves de Araújo e dom Francisco de Lemos, este de Orense (os<br />

originários da Gallliza, Pedro Taques nos oferece como portugueses)” 238 .<br />

Em 1951 publicou-se o que, possivelmente, seja um dos primeiros trabalhos de<br />

campo, realizados em São Paulo, especificamente dirigidos à análise de aspectos<br />

identitários dos imigrantes espanhóis. Trata-se da monografia Algumas contribuições<br />

espanholas ao folclore paulista, publicada na Revista do Arquivo Municipal do<br />

Departamento Municipal de Cultura de São Paulo. Nela, Wellman Galvão de França<br />

Rangel expõe que verificara a absorção e incorporação do gosto musical sertanejo pelos<br />

filhos de imigrantes espanhóis estabelecidos em algumas zonas rurais do interior do Estado<br />

de São Paulo – zona de Catanduva –. Eis o relato da sua constatação:<br />

Neste ponto, uma observação falsa poderá supor que supervalorizamos a contribuição espanhola à<br />

cultura dos grupos com que convive. De fato, apenas constatamos a importância dos padrões<br />

culturais hispânicos ao lado dos demais, com que coabitam, com que se misturam, com que se<br />

fundem, sem, com isso, sobrevalorizar a influência folclórica daquela proveniência. Mesmo porque<br />

238 O tema da diacronia da aculturação e assimilação no Estado de São Paulo do elemento estrangeiro por<br />

retomado por Alfredo Ellis Junior no ensaio A Lenda da Lealdade de Amador Bueno e A Evolução da<br />

Psicologia Planaltina, publicado em 1967. Nesse ensaio, ele estabelece uma relação diretamente proporcional<br />

entre a rapidez para a assimilação brasileira de um estrangeiro e a sua falta de orgulho identitário a respeito da<br />

cultura diferencial e da história política do seu povo: “Alias, é bem essa marcha evolutiva que hoje se pode<br />

observar, ao se dar uma colonização qualquer. Na primeira geração o imigrante exótico ainda traz certa<br />

saudade da pátria a qual se desvanece, logo à segunda geração. A terceira se sucede, trazendo todos os traços<br />

do exotismo apagados. Se isso se pode observar hoje, com maioria de motivos era de acontecer nos primeiros<br />

séculos, quando o estado de isolamento seria muito maior, com a falta de uma base econômica, o que teria<br />

determinado contatos obrigatórios com o mundo exterior, com a falta de comunicações regulares, com a falta<br />

de correio, de telégrafo, de imprensa, de rádio, de cinema, etc., que trazem constante e continuamente notícias<br />

do mundo exterior, etc. Além disso, hoje há muito mais cultura e muito mais civilização, de modo que as<br />

evocações literárias, noticiosas, pictóricas, etc. da pátria de origem podem ser absorvidas com certa facilidade.<br />

Outrora, os povoadores lusos que aqui vieram tinham um cérebro temperado de tal estado de ignorância e de<br />

analfabetismo que não seria permitido absorver a cultura lusa transmitida às gerações pelas penas fulgurantes<br />

de Camões ou de João de Barros, ou ainda pelo verbo flamante de Antônio Vieira. Além desse fator, acima<br />

exposto, o qual teria sido de imensa valia no processo assimilatório do povoador reinol, ainda havia um outro<br />

que deve ser considerado. Hoje, as etnias imigratórias mais prontamente assimiladas são as que trazem as<br />

tradições políticas mais pobres e as menos causadoras de ufanias. Assim, por exemplo, a corrente imigratória<br />

italiana. Ela foi rapidamente assimilada, mesmo porque não trazia muitas recordações gloriosas na sua<br />

bagagem psíquica de modo a causar a ufania por elas gerada durar mais tempo a emoldurar de prestígio a<br />

origem itálica. De fato a Itália politicamente recém-unificada, sem glórias militares, sem nomes aureolados no<br />

campo da luta, não tinha para oferecer muito prestígio ao seu emigrante. Ao contrário do imigrante italiano, o<br />

germânico, ou o anglo-saxão, ou ainda o nipônico traziam consigo uma tradição de passados lambrequinados<br />

de glórias de nações que conquistaram o prestígio que possuíam em árduas pelejas militares ou navais, ou que<br />

cimentaram os seus primórdios nacionais com o sangue do sacrifício e o suor de esforço, alinhados em mil<br />

refregas e em embates sem conta. Gente assim é muito menos assimilável! O seu ponto de fusão é muito mais<br />

elevado! O enquistamento de gente assim é muito mais de se receiar! Ora, o elemento português do fim do<br />

quinhentismo apresentava todos os característicos possíveis de baixa temperatura fusional. Não poderia<br />

acompanhar a gente lusa uma grande ufania pela sua procedência!” (Ellis, 1967: 38-39).<br />

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