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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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desígnio natural, ao indivíduo e qualifica como subversão perigosa qualquer ação que<br />

procure alterar e confundir a regulamentação do acesso ao conhecimento, cuja aquisição só<br />

se deveria permitir a quem tenha condições de assimila-lo na justa medida. Ou seja, a<br />

popularização da cultura não significa só, para ele, a banalização da cultura, senão também<br />

a ruptura da ordem natural, pois não é lícito que ao ignorante lhe sejam apresentados<br />

assuntos para cuja compreensão o seu discernimento não está dotado; o ignorante sentirá a<br />

vontade de se apropriar conhecimento alheio, e superior, o qual conduzirá à detonação da<br />

essência desse conhecimento, e ao caos. Fica explícito o seu posicionamento quando o<br />

exemplifica através da exposição da sua opinião sobre a extensão universitária:<br />

Não há autoridade que possa resistir hoje à sátira dum atrevido, amanhã o protesto dum desocupado,<br />

depois de amanhã a acusação dum irresponsável. Para onde vamos por este caminho? Pude perceber<br />

mais diretamente esta desordem na vida universitária onde, na mania de que os catedráticos<br />

distribuíssem ciência entre os transeuntes, como si fossem jornaleiros, chegou-se aos mais ridículos<br />

absurdos: já assisti a uma conferência sobre a autenticidade de uns restos halstáticos, entre pobres<br />

operários que na tarde de chuva e sem ter outra coisa a fazer, entraram tranqüilamente na aula de Préhistória<br />

para discutir logo no botequim a capacidade do professor e a importância da dissertação. Esta<br />

política, chamada de extensão universitária, em que parou na maior parte dos países em que foi<br />

implantada? Em que as universidades, em vez de fazer alta cultura, ficaram reduzidas a vulgarizar<br />

monografias econômicas como qualquer grêmio literário de bairro; em que os jornais universitários<br />

já são pouco mais que essas revistas que compramos, preguiçosos, ao empreender uma viagem; em<br />

que os carpinteiros – que em tempos menos liberais e mais felizes contentavam-se com saber bem o<br />

seu ofício e viver o mais alegremente possível – já se torturam com incógnitas de cálculo integral e, a<br />

cabeça repleta de palavras esquisitas, em vez de trabalhar, querem provar sabedoria, julgando-se em<br />

condições de governar o mundo. Não, não; uma biblioteca, uma exposição de arte, uma conferência<br />

científica não devem ser públicas em geral: Descartes, Picasso e Einstein, em baixos níveis, só<br />

produzem perturbação – são graus máximos de cultura aos quais só devem chegar os iniciados (Las<br />

Casas, 1937b: 126-27).<br />

Mediante a “A valorização da eficácia” – ponto sétimo –, Las Casas insta a que<br />

tanto os regimes ditatoriais quanto os governos democráticos se sirvam, sobretudo, de<br />

funcionários que, embora possam ser pouco entusiastas, ou inclusive críticos e carentes de<br />

afeto, com a autoridade, saibam cumprir os seus cometidos com inteligência, fé e lealdade.<br />

Na norma oitava , “Um rumo exterior”, o autor propõe como remédio para abafar os<br />

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