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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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em que 20% da população carioca constituíam-no os imigrantes portugueses. O autor<br />

comenta depoimentos, perante a polícia, de sujeitos envolvidos em brigas nos quais o<br />

qualificativo “galego” era recebido como um insulto que podia desencadear violências.<br />

Assim aconteceu entre o português Nogueira, gerente da cocheira de uma empresa de<br />

transporte de carnes verdes, e o empregado Maciel Rodrigues Veiga, espanhol, de 27 anos,<br />

solteiro, sabendo ler e escrever, cocheiro, os quais se agrediram, e trocaram disparos, no<br />

local de trabalho (Chalhoub, 1986: 85-86). As testemunhas da defesa do português<br />

declararam perante a polícia que o empregado insultara o feitor, chamando-o “filho da<br />

puta” e “galego”. Por sua vez, Schwarcz, em sua biografia do imperador D. Pedro II,<br />

comenta:<br />

Dizia-se que, no caminho que fazia quase todos os dias de São Cristóvão para o Paço da Cidade, d.<br />

Pedro abanava a cabeça de um lado para o outro enquanto seus batedores, de espada em punho,<br />

gritavam para os carroceiros portugueses que atravancavam as ruas: “Oh seu galego!! Sai do<br />

caminho!!” (Schwarcz, 1998: 414).<br />

Frente ao acontecido em países como Cuba, Argentina, Uruguai ou México, onde a<br />

presença galega também era majoritária se comparada com outras procedências espanholas,<br />

no Brasil o gentílico “galego” não foi empregado para designar todos os oriundos da<br />

Espanha. Nesses países, foram inclusive compostos arquétipos de personagens<br />

cinematográficas 132 ligados a estereótipos sobre os galegos. A personagem do “galego” é<br />

muito escassa no corpus dramático, embora o vocábulo surja como alcunha de portugueses<br />

ou de loiros. Aparece, entretanto, o personagem do “espanhol”, caracterizado conforme os<br />

tópicos “flamencos” 133 .<br />

De todas as formas, houve intelectuais no Brasil que entenderam que os genuínos<br />

imigrantes galegos – os naturais da Galiza – encarnavam e ratificavam a representação<br />

132 A criação de estereótipos sobre os galegos na produção artística rio-platense foi estudada, para o período<br />

de 1880-1940, por Núñez Seixas (2002: 64-99). Uma breve referência ao estereótipo tópico dos galegos no<br />

México consta no estudo realizado sobre esses imigrantes nesse país, de 1878 a 1936, por Elixio Villaverde<br />

García (Villaverde, 2003: 11-12). Durante o ano 2002, no programa televisivo de variedades apresentado sob<br />

o nome A las siete con Fernando, produzido em Miami para colônia de cubanos exilados, foi inserida a série<br />

“Tres patines”, colagem da popular novela radiofônica de Cuba, na década de 1930, intitulada La tremenda<br />

corte, em que se retrata humoristicamente um estereótipo do galego caipira – grosso, avarento enredado em<br />

conflitos com o agente da justiça –, o malandro nativo e a mulata tópica, mas, no fundo, ingênuo e “de bom<br />

coração”.<br />

133 A aparição de grupos de espanhóis fez parte de duas telenovelas brasileiras do primeiro lustro do séc. XX<br />

ambientadas no cotidiano dos imigrantes. Em ambas as produções, Terra Nostra e Esperança, os imigrantes<br />

da Espanha estavam pouco caracterizados e só eram reconhecíveis por alguns traços extraídos dos clichês<br />

flamencos de héxis corporal, pelo sotaque imitado e por um espirituoso temperamento bravo.<br />

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