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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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pontualidade e inexatidão” na cotidianidade 70 . Essas imperfeições, na sua opinião,<br />

deveriam ser superadas para evitar que “certos viajantes” comodistas e superficiais<br />

pudessem regressar aos seus países, logo de visitar o Brasil, com “a presunção de<br />

superioridade em civilização e de achar muita coisa neste país atrasada e deficiente”<br />

(Zweig, [1941] 1960: 10). De todas as formas, minimiza, e inclusive neutraliza, as máculas<br />

apontadas alegando que os periclitantes “acontecimentos dos últimos anos” alteraram os<br />

referenciais relativos à civilização e cultura de uma nação. A civilização deixara-se de<br />

medir por critérios cingidos à capacidade de organização, à fortuna pecuniária e ao<br />

conforto, e pela quantidade e qualidade de bens de consumo por indivíduo nacional 71 , e<br />

passara a ser ponderada através do “cômputo do espírito de humanidade”. Por essa norma<br />

de confronto, o Brasil, devido ao espírito pacífico e humanitário do seu povo, ocuparia,<br />

segundo Zweig, uma posição superior 72 .<br />

Brasil, país do futuro está estruturado em cinco partes. Uma extensa primeira parte,<br />

que ocupa a metade da obra, é dedicada a generalidades sobre o Brasil; é composta pelas<br />

seções Prefácio, Introdução, História, Economia e Civilização. Seguem-se as partes<br />

dedicadas ao Rio de Janeiro, a São Paulo e a Minas Gerais, e a parte intitulada O vôo sobre<br />

o norte, que reúne os seus ensaios sobre a Bahia, o Recife e a Amazônia. O produto<br />

70 A falta de rigor com os compromissos foi, no entanto, percebida por Zweig ([1941] 1960: 134), no capítulo<br />

Civilização, como uma virtude civilizacional digna de emulação, pois ela derivava em um modo de vida<br />

relaxado e afável e, portanto, mais humano: “Mas, por outro lado, também o europeu que chega ao Brasil para<br />

visitá-lo mais ou menos demoradamente, tem aqui muito que aprender. Encontra outro sentimento do tempo.<br />

Aqui o grau de tensão da atmosfera é menor, os indivíduos são mais afáveis, os contrastes menos fortes, a<br />

natureza está mais próxima, o tempo não está cheio de ocupações, as energias não se acham tão fortes e<br />

extremamente tensas. Vive-se aqui mais pacífica, portanto mais humanamente, não se vive tão maquinal, tão<br />

padronizadamente, como nos Estados Unidos, não se vive tão superexcitado e envenenado pela política como<br />

na Europa”.<br />

71 No capítulo intitulado Civilização, Zweig ([1941] 1960: 123) expõe que a displicência, ou mesmo o<br />

rechaço, em relação aos bens de consumo era um traço distintivo da maioria das famílias brasileiras. Estas,<br />

segundo ele, não possuíam esses bens não porque não os pudessem adquirir, senão porque não tinham<br />

interesse neles: “A não ser em umas trezentas ou quatrocentas famílias de classe elevada, não se encontrarão<br />

no país inteiro nenhum quadro de valor, nenhuma obra de arte, mesmo medíocre, livros de valor, nada do<br />

conforto que tem o pequeno cidadão europeu – no Brasil é sempre a frugalidade que desperta a atenção do<br />

estrangeiro”.<br />

72 No capítulo intitulado Civilização, Zweig ([1941] 1960: 116) relativiza o talante bondoso do povo<br />

brasileiro. Censura esse talante por ser suscetível de conduzir à hiperestesia, podendo derivar em percepções<br />

erradas da fala ou do comportamento do outro, as quais, por sua vez, provocavam, pela ofensa sentida,<br />

reações de desconfiança e, inclusive, de rancor: “Essa extraordinária delicadeza de sentimentos, essa ausência<br />

de preconceitos, essa boa fé, essa boa índole e essa incapacidade de ser brutal do brasileiro acompanham-se<br />

duma sensibilidade muito grande e talvez excessiva. Não só muito sentimental, mas também muito sensível,<br />

todo brasileiro possui um sentimento de honra muito suscetível e todo especial. Precisamente porque é tão<br />

cortês e modesto, toma logo a mais involuntária descortesia por um menosprezo. Não é que ele reaja<br />

violentamente como um espanhol, um italiano ou um inglês; por assim dizer, guarda a suposta ofensa”.<br />

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