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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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não sucumbir a isso, resta procurar um caminho. Fixado a esse outro lugar, tão seguro quanto<br />

inabordável, o estrangeiro está pronto para fugir. Nenhum obstáculo o retém e todos os sofrimentos,<br />

todos os insultos, todas as rejeições lhe são indiferentes na busca desse território invisível e<br />

prometido, desse país que não existe mas que ele traz no seu sonho e que deve realmente ser<br />

chamado de um além (Kristeva, 1994: 12-13).<br />

Com o abandono da família por parte do estrangeiro, ele, nela, passa a existir como<br />

uma lembrança. Na visão dos nativos, a família, ausente e, logo, intangível, do estrangeiro<br />

não existe. Se a família não está e não pôde ser reconhecida e avaliada, se ela não pode<br />

intervir para influenciar, ela não carece de entidade e qualquer representação que o<br />

estrangeiro queira reproduzir perante os nativos é susceptível de receber a qualificação de<br />

falsária. O estrangeiro há de sentir que a ruptura do vínculo com a estirpe, em vez de<br />

motivar louvores entre os nativos no tocante à sua capacidade de independência, gera a<br />

responsabilidade de explicar a causa desse corte e cria a sensação de uma culpabilidade que<br />

tem de ser assumida por se haver perdido um âmbito de comunicação. E, caso tal âmbito se<br />

mantenha, os nativos poderão opinar que ele nada bom proporciona ao estrangeiro a não ser<br />

reavivar as saudades. A família do estrangeiro que ficou no país de origem não pode ser<br />

nem boa nem poderosa, porque não quis nem foi capaz de evitar a ruptura, e de nada serve<br />

que ela aja como o melhor interlocutor para que o estrangeiro confesse o seu mal-estar no<br />

desterro, as altercações que lhe acontecem com os nativos e o devir do seu projeto no<br />

exterior. Contudo, se o estrangeiro se recusa a falar aos nativos da sua família, ele também<br />

pode ser acusado de insensibilidade, desleixo ou crueldade, o qual confirmaria a sua<br />

condição de sujeito sorrateiro. Ao final, a família ausente do estrangeiro, ignorada ou<br />

diminuída entre os nativos, pode acabar se revalorizando perante o estrangeiro, quem<br />

aumentará o sentimento ilusório de união e identificação comunitária com ela, embora ele,<br />

com o transcurso do tempo, se converta, cada vez mais, em um estrangeiro para a sua<br />

própria família, a qual se resigna a não o compreender e a o perder para sempre.<br />

No país receptor, o estrangeiro, se o deixam, pode decidir entre, desde a sua ilusão e<br />

com ânimo desafiante, continuar sendo como era antes de chegar e, portanto dessemelhante<br />

e excluído, ou incluir-se, obviando o seu passado, para o qual deverá demonstrar a sua<br />

vontade de ser semelhante, isto é, de ser reconhecido pelos naturais como o seu par. Os<br />

amigos do estrangeiro que ficaram no país de origem também inexistem para os nativos.<br />

Caso os haja, eles não estão no país receptor, a sua valia não pode ser comprovada e eles<br />

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