26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

(Tobías, peleriñante,/ cun anxo, seu patrocinio;/ e unha coxa descuberta;/ na man dereita,<br />

un peixiño,/ ios ollos, coma os teus ollos,/ meu ben, craros e sentidos).<br />

A mulher nordestina – baiana, neste caso – está presente também no poema Mallar<br />

no Judas (García, 1977: 90-92), uma representação, em dois cantos, da experiência do autor<br />

como observador do costume ibérico da malhação do Judas no sábado de Aleluia:<br />

Dispóis do Aleluia, a xente latrica/ cuns bonecos feios, imaxes de Xudas,/ que son pendurados, por<br />

mozos e vellos, nas portas das casas de prazas e rúas.// Uns eran retratos de Carlos Lacerda,/ político<br />

mozo, entón fulgurante,/ pro que se perdéu na riola do tempo,/ coma nos coriscos, as follas dos albres<br />

(García, 1977: 90).<br />

Na última estrofe do primeiro canto, menciona-se o “Largo do Machado”, a única<br />

referência útil para situar espacialmente o texto; acreditamos, nesse sentido, que o autor se<br />

refere ao Largo do Machado do Rio de Janeiro (“Largo do Machado é bonita praza,/ alí eu<br />

malléino, non vóu a negalo,/ pois, ao Iscariote, todos nós o temos/ por boi espiatorio dos<br />

nosos pecados.”). A referência a Carlos Lacerda (“político mozo, entón fulgurante,/ pro que<br />

se perdéu na riola do tempo”) indica-nos, tanto que o autor observou o que verseja muitos<br />

anos antes da publicação da obra, quanto que o poema foi composto, ou revisado, anos após<br />

a sua ida a essa malhação, pois Carlos Lacerda faleceu, com 63 anos, aos 21 de maio de<br />

1977. Por um lado, a raiva popular desatada contra esse político, manifestada na encarnação<br />

em Lacerda da figura de Judas, muito provavelmente esteja relacionada à campanha<br />

difamatória que ele orquestrara contra Getúlio Vargas e às manobras que ele promovera<br />

para impedir a posse de Juscelino Kubitschek. Por outro, o autor, ao assinalar que Lacerda<br />

acabara perdendo o rumo político com o passar do tempo pode estar aludindo ao apoio por<br />

este prestado à Revolução de 1964.<br />

No canto segundo o autor verseja a dó que o Judas traidor acabou provocando entre<br />

algumas mulheres, que decidiram cuidar do boneco, penteando-o, perfumando-o e<br />

enfeitando-o, até convertê-lo em um fetiche ou em um ex-voto com o qual se identificava o<br />

autor:<br />

Contóume unha moza, bahiana, bonita,/ da mesma cidade de San Salvador,/ que, pouquiño a pouco,<br />

algunhas mulleres,/ foron esquecendo ao Xudas treidor.// [...] E algunhas saudosas chegaron ao caso,/<br />

de adoviar de Xudas ao noivo esquecido,/ riba dil vertendo prantos tan acedos/ coma as Madalenas<br />

dun amor perdido.// [...] Tamén eu son Xudas e si me levaras,/ a vella figueira que carrega os figos,/<br />

choraras na sombra, cando me aforcaras,/ coa longa ringreira dos teus loiros rizos (García, 1977: 91-<br />

92).<br />

875

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!