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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Abdelmalek Sayad sublinha que a ocultação da dimensão intrinsecamente política<br />

do fenômeno migratório é imprescindível para a perpetuação da asséptica regulamentação<br />

das migrações. Para o sociólogo argelino, as partes envolvidas na ocultação da natureza<br />

política do fenômeno migratório desconsideram que a transferência de mão-de-obra<br />

consiste, na verdade, em uma transferência de cidadãos ou indivíduos nacionais e, logo, de<br />

sujeitos políticos: Essa problemática é exposta por Sayad como se segue:<br />

Se, no fenômeno migratório, a razão ou a necessidade econômica invocadas autorizam cada um dos<br />

parceiros a fazer um contrato confesso, um (o país de emigração), com vistas à “exportação”<br />

(provisória) de seus trabalhadores nacionais proclamados disponíveis para esse fim – proclamados<br />

desempregados: esta é a função objetiva cumprida pelo álibi do desemprego –, o outro (o país de<br />

imigração), com vistas à “importação” (igualmente provisória) dos trabalhadores que lhe faltam ou<br />

de uma determinada categoria de trabalhadores, por outro lado, a razão nacional ou a necessidade<br />

política, mesmo quando se fala em termos de demografia, impedem que se confesse do mesmo modo<br />

e de forma tão manifesta que se está procedendo, na verdade, à transferência, não provisória e sim<br />

definitiva (como poderá ser, talvez, consagrada “por exemplo” pela naturalização, uma operação de<br />

“transubstanciação” pela qual o cidadão ou o nacional de uma nação e de uma nacionalidade se torna<br />

o cidadão ou o nacional de outra nação e de outra nacionalidade), para um dos dois países (o país de<br />

“exportação” ou de emigração), de uma parte de sua população atual, seus emigrantes – população<br />

que é efetivamente sua ou que considera como sua porque é, de direito (e apenas de direito), sua;<br />

para o outro país (o país de “importação” ou de imigração ou ainda de naturalização), de uma parte<br />

de sua população futura, seus imigrantes (Sayad, 1998: 278).<br />

A justificativa da ocultação do caráter político do fenômeno migratório encontra-se<br />

na dificuldade que qualquer ordem nacional tem para reconhecer que aceita a saída do seu<br />

território nacional de uma fração dela mesma, isto é, de indivíduos que fazem parte da sua<br />

identidade e da sua integridade. Por sua vez, a agregação de indivíduos na ordem nacional<br />

mediante a contratação provisória de mão-de-obra estrangeira supõe também um<br />

procedimento politicamente difícil de explicar. Esses indivíduos transferidos de uma ordem<br />

nacional a outra se converterão, se não retornam, em uma fração constituinte da população<br />

nacional, logo, da cidadania e da nacionalidade. Esses sujeitos que, aparentemente,<br />

tomaram a decisão individual de emigrarem e de se transformarem em imigrantes, mas que<br />

se acabam inserindo em uma realidade coletiva alheia, mudam com a sua presença, e com a<br />

sua fusão na sociedade de recepção, as representações da nacionalidade que havia antes da<br />

sua chegada. Para que isso aconteça, tem que haver previamente uma aceitação das<br />

conseqüências da inserção de imigrantes na ordem nacional. Assim, a assunção da perda de<br />

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