26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“acento picaresco” da sátira social de Memórias de um sargento de milícias com, por um<br />

lado, o humorismo de Quevedo e, sobretudo, com a técnica e o estilo da narrativa picaresca<br />

espanhola. Com isso, nas raízes do romance brasileiro poder-se-ia afirmar que está a<br />

influência do gênero picaresco da literatura espanhola, a qual derivou em notáveis<br />

analogias do Estebanillo González e La vida de Lazarillo de Tormes com Memórias de um<br />

sargento de milícias e em obras posteriores, como O Encilhamento, de Taunay, e Memórias<br />

de Agapito Goiaba, de Gonçalves Dias. A esse respeito, Pinto do Carmo (1959: 65)<br />

conclui: “Vingou e teve adeptos o gênero; apenas, transplantado, medrou mais ameno<br />

como, com o tempo, foi ele se amenizando na própria Espanha”. Pinto do Carmo detém-se<br />

especialmente no estudo da recepção do Dom Quixote no Brasil e faz uma exposição de<br />

obras brasileiras em que ou esse romance de Cervantes é utilizado como uma fonte de onde<br />

tirar representações de atitudes, idiossincrasias, ou posicionamentos ideológicos, ou<br />

elementos desse romance servem de amparo para determinadas exposições contidas nessas<br />

obras, ou o romance de Cervantes é a causa de interpretações e ensaios. Para tanto, Pinto do<br />

Carmo refere-se sumariamente aos primórdios da recepção do Quixote no Brasil 404 e<br />

pelo menos, foi dos poucos livros daquele momento que resistiu a quase duas dezenas de edições, cinco das<br />

quais entre 1862 e 1900, quando poucas eram as impressões”.<br />

404 Pinto do Carmo (1960: 111) acredita que “Não se pôde, ainda, precisar em que momento se começou a ler,<br />

aqui, o Dom Quixote”. Remonta, no entanto, a primeira inserção de elementos do Quixote na literatura<br />

brasileira a um soneto e a umas décimas de Gregório de Matos, isto é, por volta de oito décadas após a<br />

publicação da segunda parte do romance de Cervantes. O soneto de Gregório de Matos ao que Pinto do<br />

Carmio se refere intitula-se Ao tabelião Manuel Marques tendo sido espadeyro havia pouco. Nos seus tercetos<br />

lê-se: “Que ignore este enfim seu nascimento,/ Como o faz no Brasil qualquer Brichote,/ Vade em paz, porque<br />

imita mais de cento:/ Mas que sendo inda há pouco espadeirote,/ Queira ser como Bruto grão talento;/ Será:<br />

que manhas tem de Dom Quixote”. Os versos da décima – A outro requerente apellidado o peralvilho, que<br />

costumava vender as causas, e furtou ao poeta um cavallo sellado – em que está a menção ao personagem<br />

Quixote são estes: “Procurastes ao traidor,/ e eu fiquei desenganado,/ que fostes já procurado/ para mau<br />

procurador;/ lá entregou ao Senhor/ um Judas Escariote,/ vós, Peralvilho Quixote,/ entregastes como acinte/<br />

ao vosso constituinte/ como a simples sacerdote”. Pinto do Carmo não o menciona, mas há um outro soneto<br />

de Gregório de Matos em que o personagem Quixote é utilizado como uma referência. Trata-se do soneto<br />

Descreve a vida escolástica, em cujos tercetos lê-se: “A putinha aldeã achada em feira,/ Eterno murmurar de<br />

alheias famas,/ Soneto infame, sátira elegante./ Cartinhas de trocado para a Freira,/ Comer boi, ser Quixote<br />

com as Damas,/ Pouco estudo, isto é ser estudante”. Além desses poemas de Gregório de Matos, Pinto do<br />

Carmo menciona, como obras brasileiras ocasionadas pelo Quixote ou em que repercutiu esse romance, a peça<br />

de teatro Vida do grande D. Quixote de la Mancha, encenada em 1737 por Antonio José da Silva, o judeu, e a<br />

Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo, em cujo prefácio se menciona a “ilha Barataria” e na qual, na<br />

comédia Boêmios, há uns versos encomiásticos aos valores do personagem Quixote (“Dom Quixote! Sublime<br />

criatura!/ Tu sim foste leal e cavaleiro,/ O último herói, o paladim extremo/ De Castela e do mundo. Se teu<br />

cérebro/ Toldou-se na loucura, a tua insânia/ Vale mais do que o siso destes séculos/ Em que a Infâmia,<br />

Dagon cheio de lodo,/ Recebe as orações, mirras e flores,/ E a louca multidão renega o Cristo!/ Tua loucura<br />

revelava brio./ No triste livro do imortal Cervantes/ Não posso crer um insolente escárnio/ Do Cavaleiro<br />

andante aos nobres sonhos,/ Ao fidalgo da Mancha-cuja nódoa/ Foi só ter crido em Deus e amado os homens,/<br />

E votado seu braço aos oprimidos./ Aquelas folhas não me causam riso,/ Mas desgosto profundo e tédio à<br />

579

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!