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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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na obra. Ele insiste no caráter hospitaleiro dos habitantes da região que, com<br />

magnanimidade, compartilham com o viajante o pouco que tinham; adverte que os<br />

sertanejos ostentam as armas que possuem, mas matiza que isso se deve à imperiosidade da<br />

defesa – “defensa necesaria en el bosque; defensa contra los animales, no contra los<br />

hombres” (Casais, 1940: 197) – e menciona que um faiscador que ele conhecera, apesar de<br />

estar encontrando bastante ouro nos córregos e rios da região, desejava ir trabalhar a São<br />

Paulo, pois a fortuna só se podia obter lá. São observações muito pontuais sobre alguns dos<br />

habitantes do interior goiano. Ele já manifestara que não pretendia fazer avaliações<br />

científicas e que se limitaria a recolher por escrito as suas impressões de viagem. Mas, se<br />

reunidas, as sumárias e escassas anotações de Casais sobre a povoação sertaneja goiana<br />

esboçam um panorama social no qual, apesar da escassez de sinais dos efeitos do progresso,<br />

nada anômalo há e para o qual se pode vaticinar, caso se ponham os meios, um rápido<br />

desenvolvimento devido à moralidade dessa gente 473 . Porém, uma década após, Haroldo<br />

Cândido de Oliveira percorrendo o mesmo espaço pelo que transitara Casais, percebe na<br />

sua experiência como viajante pelo Planalto Central, lacras e taras entre os sertanejos que<br />

lhe impedem lavrar, no seu diário, comentários benévolos ou esperançosos em relação ao<br />

futuro da população do interior goiano. Aos 18 de junho 1947, Oliveira escreveu:<br />

Em todo o Estado de Goiás tenho encontrado um grande número de estropiados, mudos, cegos,<br />

paralíticos, idiotas, tortos, papudos, bobos, uma legião de desgraçados!...<br />

Acabo de visitar um asilo onde se acham reunidos alguns monstros dos mais tristes que já vi.<br />

E a vida continua!... E o sol brilha, tranqüilo, como se nada houvesse!... (Oliveira, s/ d: 12).<br />

Nos seus apontamentos relativos à viagem rumo a Leopoldina, Oliveira (s/ d: 17)<br />

lamenta o estado das estradas – “as célebres estradas de um Estado que gastou milhões na<br />

construção de uma capital artificial!...” –, crítica o prato básico da alimentação na região –<br />

“de carne seca cozida com arroz, a incrível ‘Maria-Isabel’, [...] E vive-se disso! Vive-se,<br />

473 Casais descreve a casa onde almoçaram na primeira parada feita durante a viagem da Cidade de Goiás a<br />

Leopoldina. Era uma maloca que, segundo fosse a perspectiva, poderia ser qualificada como humilde ou<br />

como miserável. Casais (!940: 196) escolhe qualificá-la de humilde e ressalta a dignidade dos valores morais<br />

que distinguia a conduta da família que os acolhera e que os alimentou gratuitamente: “como era la [hora] del<br />

almuerzo, paramos cerca de una casa de labradores aislada en el campo. La choza era humilde, techada de<br />

hojas. Mientras esperábamos el yantar ofrecido, sentados en bancos rústicos junto a la cocina-comedor,<br />

observé las paredes. Pendían de ellas una vieja espingarda, dos retratos desvaídos y un cuadro de los Sagrados<br />

Corazones. Buenos, amables, hospitalarios, los campesinos nos dieron de lo que tenían, de todo lo que tenían,<br />

con la mejor voluntad y desprendimiento. Cuando intentamos pagar no hubo manera de que nos cobrasen. La<br />

vieja patrona parecía asombrarse de nuestra pretensión. Inútil insistir. – Si yo pasase por su casa, argumentaba<br />

la buena señora, ustedes tampoco me harían pagar la comida”.<br />

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