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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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No mês de agosto, durante uma agitada crise nervosa em que se sente aborrecido e<br />

incapaz para se concentrar e ler – “estou inquieto, intranqüilo”, escreve; “ora me dá vontade<br />

de rir, de falar muito, de correr daqui para ali, ora me sinto abatido, angustiado” (Las Casas,<br />

1938: 154) –, revisa as relações humanas que marcaram a sua vida. Esse estado de ânimo é<br />

descrito nas suas anotações do dia 15, salientando que recuperara a serenidade uma noite<br />

em que, descendo ao jardim, escutara o ruído produzido pela água da fonte do paço. A<br />

calma que sentiu levou-o a refletir sobre a função da água na humanização dos povos e,<br />

especificamente, sobre a sua influência no talante e na produção cultural dos galegos:<br />

Agora percebo porque todas as grandes culturas professaram à água um grande culto; [...]. A Galiza é<br />

uma região de rios, de estuários, de lagos, de fontes inúmeras, é uma terra úmida, molhada, e por isso<br />

a nossa literatura, e todas as nossas manifestações de arte, são entranhavelmente humanas; a terra<br />

mais seca da Espanha é a Extremadura e por isso lá está o berço dos conquistadores: Pizarro, Herman<br />

[sic] Cortés, Valdivia... (Las Casas, 1938: 154-55).<br />

Já após a leitura das primeiras páginas de Os dois, a discriminação e a exposição<br />

minuciosa dos objetos do interior do paço que faz o segundo autor servem para que o<br />

consumidor conhecedor da Galiza situe com facilidade o espaço geográfico escolhido para<br />

o desenvolvimento da narração. Assim, se com os apontamentos do segundo autor acerca<br />

da história dos paços, a narração ficava claramente enquadrada na Galiza, os detalhamentos<br />

sobre o paço de Názara circunscrevem, comarcalmente, a maior parte da trama à Terra de<br />

Celanova. Entretanto, se for considerado que o livro, no momento do seu lançamento e<br />

tendo em conta que fora editado por A Noite, deve haver sido lido, sobretudo, por cariocas<br />

e paulistas, e por intelectuais determinados aos que se lhes teria remetido a obra,<br />

acreditamos que as especificações feitas pelo protagonista Fernando pouca relevância<br />

puderam ter a não ser para a consolidação da percepção paisagística de que os<br />

acontecimentos tinham lugar ambientados no interior rústico, atrasado e fidalgo das terras<br />

galegas da Espanha. Os recortes da fortuna crítica do romance que foram anexados, no ano<br />

seguinte ao seu lançamento, em Na labareda dos trópicos 565 , e, portanto selecionados pelo<br />

565 Trata-se de oito breves resenhas que compõem o anexo de Na labareda dos trópicos (Las Casas, 1939:<br />

198-99) em que Álvaro de Las Casas reuniu a fortuna crítica obtida pelas suas obras publicadas no Brasil<br />

(Espanha; gênese da revolução, Oraciones y consejos de amor, Angústia das nossas horas, Sonetos<br />

brasileños e Os dois). Em quatro das dedicadas a Os dois, junto ao nome do autor consta o periódico em que<br />

supostamente foram publicadas. As outras quatro só vão acompanhadas do nome do seu responsável. As do<br />

primeiro grupo são de autoria de Donatelo Grieco (Vamos Lêr!), Machado Coelho (O Estado do Pará),<br />

Lemos Brito (A Vanguarda) e Ledo Ivo (Jornal de Alagoas). Donatelo Grieco escreveu: “Las Casas possui,<br />

como poucos, o dom de armar situações sentimentais e casos da vida quotidiana que ninguém, vindo a tomar<br />

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