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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Tempos difíceis tanto para aqueles que optaram por imigrar após a Segunda Guerra Mundial como<br />

para aqueles que resolveram permanecer na Galícia recolhidos em suas aldeias, transformadas em<br />

monumento-símbolo da desagregação do mundo rural galego. [...] Ser espanhol tem múltiplas<br />

facetas, tantas quantas são as diversidades regionais da Espanha onde “cada mundo é um mundo à<br />

parte”, ainda que unidos pelo sentimento de hispanidade. Frente a esse conjunto de diversidades, a<br />

Galícia possui luz própria: o idioma misterioso e o perfil de uma região dedicada à terra apresentamse<br />

como indícios de uma cultura essencialmente galega (Peres, 2003: 20-21).<br />

Para o mesmo período, Nicolau Sevcenko, também historiador da USP 136 , refere-se<br />

a esses imigrantes vinculando-os com a barbárie e o caos. Sevcenko fez deles o seguinte<br />

retrato:<br />

Uma comunidade pouco articulada e carente de uma cultura política mais elaborada, [...]. Vistos<br />

dessa perspectiva, os amplos contingentes de imigrantes galegos que convergiam para o Brasil entre<br />

1946-64 eram “rurais” demais, “atrasados” demais, “desorganizados” demais e “autodeterminados”<br />

de menos (Peres, 2003: 25-26).<br />

A visão de Sevcenko mostra que, para esse historiador, os galegos não atuavam,<br />

nem individual nem comunitariamente, como se esperava que o fizessem os imigrantes<br />

normais 137 . Por um lado, os pressupostos de Sevcenko obviam, porém, a atividade<br />

beneficente realizada pelas colônias de galegos e ignoram a participação de imigrantes<br />

galegos na estruturação, desde os seus primórdios, do movimento operário brasileiro 138 . Por<br />

outro, não foi percebido que o desempenho profissional de muitos imigrantes galegos<br />

determinou um conjunto de impressões – a neutralidade política, o trabalho tenaz, a<br />

136 Maria Luiza Tucci Carneiro e Nicolau Sevcenko são os autores dos textos de apresentação do livro, de<br />

Elena Pájaro Peres, A inexistência da Terra Firma – A imigração galega em São Paulo (1946-1964) (2003).<br />

137 O nível de inserção dos imigrantes espanhóis na sociedade brasileira foi medido por Sevcenko<br />

contratando-o com a conservação idiossincrática de outras colônias de imigrantes. Essa perspectiva leva a<br />

ressaltar o alto grau de assimilação da colônia espanhola, por ela ter, aparentemente, diluído a sua identidade<br />

na cultura tópica do cotidiano nacional brasileiro. Com essa mesma orientação, na sua análise sobre as<br />

características da aculturação dos espanhóis na cidade de São Paulo, Avelina Martinez Gallego (1995: 6)<br />

afirma que “[...] a influência da cultura espanhola na cultura brasileira no que diz respeito a marcas culturais,<br />

não são tão facilmente identificáveis como é a italiana, por exemplo, na culinária, na música, em certas<br />

expressões idiomáticas ou nas famosas festas religiosas como as de N. Sra. Acchiropita e de S. Genaro. Os<br />

espanhóis, pela facilidade de se fazerem entender, pela proximidade do idioma castelhano e, mais ainda, do<br />

idioma galego com o português, conservavam mesmo depois de muitos anos de Brasil, muito de seu idioma.<br />

Entretanto, não se percebe na fala popular do paulista em geral, ou do paulistano em particular, nenhuma<br />

influência do imigrante espanhol. Ainda na questão da religiosidade, que é uma característica muito forte da<br />

cultura espanhola, não se tem informações de nenhuma festa religiosa da coletividade espanhola em São<br />

Paulo”.<br />

138 Desde que, em 1906, teve lugar, no Centro Galego do Rio de Janeiro, o Primeiro Congresso Operário<br />

Brasileiro, houve intervenção de galegos nas atividades do sindicalismo revolucionário. A participação de<br />

libertários brasileiros no Congresso Anarquista do Ferrol de 1916 (Rodrigues, 1995: 212) é também uma<br />

prova das articulações entre o proletariado galego e o brasileiro.<br />

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