26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Como se encontra em Pernambuco, dirigindo-se ao Recife, isto é, em um dos<br />

estados responsáveis pela grande produção açucareira, decide visitar um engenho e uma<br />

usina. Informa que se encontra “no centro do segundo ciclo, no coração da segunda era<br />

brasileira, base da aristocracia rural do século XVII, que imprimiu sulco eterno na gestação<br />

da raça” (Las Casas, 1939: 107) e que o modo de vida gerado por esse ciclo ainda é<br />

apreciável nos antigos engenhos, com as suas fazendas antigas e a sua “Vida lenta, calma,<br />

cordialíssima”, mas não nas usinas, nas quais se aplica um modo de vida americanizado.<br />

Assim descreve o senhor de engenho e ao empresário da usina:<br />

O senhor de engenho é um tipo de fidalgo da província; o dono da usina um tipo de banqueiro.<br />

Aquele aparece na cidade simplesmente vestido, vindo na terceira classe dum trem qualquer; este<br />

aparece no campo num automóvel luxuoso e rodeado de quanto conforto é possível. Um é covarde<br />

nos seus negócios, mas certo; outro é arriscado e anualmente joga sua fortuna – e a dos seus sócios –<br />

em empresas que tanto podem levar á multiplicação fantástica como à ruína instantânea.<br />

Também conheci uma usina – a Tiuma, do cavalheiro dr. Fileno de Miranda. Julguei estar em<br />

Cannes, em Ostende, na residência de um grande plutocrata inglês (Las Casas, 1939: 107-08).<br />

Na narração da sua estadia em Olinda – cidade à qual dedica um poema 546 – e no<br />

Recife (Cap. IX – A mão de Deus), Las Casas revela que já estivera nessas cidades, pois o<br />

navio no que chegava ao Brasil fizera nelas uma escala. Las Casas, nesse sentido, insere no<br />

seu relato a crônica do que teriam sido as suas primeiras horas no Brasil:<br />

Lembro a minha emoção quando cheguei da Europa. Tinham passado já doze dias de Atlântico, sem<br />

ver terra, e nossa inquietude por pisar costa americana aumentara a ponto de fazer-se insuportável.<br />

Pela minha parte ardia por ver o Brasil. Nunca havia cá estado, e a imaginação entrevia paisagens<br />

fantasmagóricas, animais raríssimos, frutas esquisitas, todo um mundo de quimera. Eis que, lá longe,<br />

no limite do horizonte, desenha-se uma linha que pouco a pouco vai escurecendo e perdendo seu<br />

perfil retilíneo. Brasil! Navegamos umas milhas mais, e já percebemos a cabeleira romântica dos<br />

coqueiros, o outeiro de Olinda, a avenida coruscante da Boa Viagem. Recife!<br />

[...] Vocês não imaginam com que ânsia saltamos no Brasil pela primeira vez os europeus. Vamos a<br />

ver como sabe o maracujá, em que árvore se colhe a goiaba, como é um campo de abacaxis...<br />

Queremos comer mil frutas a um tempo, comprar mil coisas de uma vez, ver tudo como num<br />

flagrante. E Recife recebe-nos como uma mãe receberia o filho pródigo (Las Casas, 1939: 110-11).<br />

546 O poema dedicado a Olinda é este: “Yo he de tener un mocambo/ por el camino de Olinda,/ aún no sé<br />

como ni cuando// No me niegues tu mano,/ piénsalo bien;/ porque si eres redicha/ pierdes la dicha/ de dormir<br />

en él.// Por el camino de Olinda/ yo he de tener un mocambo/ para que descanses, niña.// En la puerta<br />

entreabierta/ tú me verás:/ la guitarra en la mano,/ canta que canta/ que te cantarás.// Dioses de noventa<br />

cielos,/ mozos de noventa razas:/ tocad panderos que viene/ mi pernambucana.// Ay torres de Olinda,/ que<br />

bonitas son!/ Y los cocoteros, y los limoneros, y los platanares, y tantos millares/ de avecillas lindas.../ Ay<br />

niña!/ Ay Olinda de mi corazón!” (Las Casas, 1939: 110).<br />

766

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!