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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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O direitista entende que nem um só espanhol deixará de ouvir a sua missa diária, e que no dia em que<br />

a esqueça deve ser fuzilado; o esquerdista considera que a Espanha não terá salvação ficando um<br />

padre vivo. Os dous são apaixonados, morbidamente parciais, doentes de loucura de mitos, incapazes<br />

de meditação serena e de observação repousada, e vêem só a aparência dos ´problemas, sem a calma<br />

necessária para se aprofundarem neles. Uns e outros ferem-se, mas não se matam. Ambos, só guiados<br />

pelas formas, resistem-se pensando nas soluções (Las Casas, 1937a: 80).<br />

O povo – o “bom povo” – conforma o terceiro plano. Esse povo prefere não se<br />

envolver nas lutas, pois só deseja que haja um governo que saiba manter a ordem para que<br />

possa trabalhar e ser feliz (“Quer ter tranqüilidade, trabalho e boa administração, mas é<br />

bom, demasiadamente bom, cordial, sincero, facilmente impressionável”); é ignorante<br />

(“Não lê, não estuda, não sabe nada. Não lhe importa Rei nem Roque”), e temperamental e,<br />

portanto, instável:<br />

Age por sentimentos e estes estão tão à flor da pele, que se abrasam na primeira lágrima. Quando<br />

mandam os liberais faz-se conservador; quando mandam os absolutistas, torna-se revolucionário.<br />

Isto, porque quer viver em paz, e com os liberais o país é um inferno; porque é humano, e com os<br />

absolutistas ele não olha senão prisões e fuzilamentos (Las Casas, 1937a: 81).<br />

A partir da consolidação desses três planos, Las Casas acha que a marcha rumo a<br />

uma grande revolução muito dificilmente se poderia deter.<br />

Quando, no capítulo II – Entre as duas Espanhas –, Las Casas narra a procura, por<br />

parte da diplomacia espanhola que seguia as instruções das Cortes Constituintes, de um<br />

infante que pudesse ocupar o trono abandonado por Isabel II, ele assinala que, de haver sido<br />

aceita a candidatura do príncipe Leopoldo de Hohenzollern proposta por Silvela, ter-se-ia<br />

produzido a reversão no caminho que conduzia à tragédia. Só então houve uma solução,<br />

mas ela foi desbotada. Ele expõe que, caso esse candidato alemão chegasse a ocupar o<br />

trono espanhol, a França teria declarado a guerra à Prússia. A Espanha ver-se-ia envolta<br />

nessa guerra junto à Prússia e vencer-se-ia com facilidade à França; em decorrência dessa<br />

aliança e dessa vitória a Espanha poderia ocupar um lugar destacado do concerto das<br />

nações e ter-se-ia criado uma causa comum que aglutinaria todos os espanhóis e faria<br />

desaparecer o risco de autodestruição pela teima deles em se enfrentarem cegamente em<br />

conflitos mesquinhos. Esta é a visão que Las Casas tem do que poderia ter acontecido se a<br />

aliança com Prússia desejada por Silvela houvesse sido aprovada:<br />

Pela primeira vez há na Espanha um político genial, de olhar agudo, que pretende dar ao seu país<br />

rumo continental e levá-lo pelo caminho das grandes empresas. Ninguém o ouviu, e a Espanha<br />

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