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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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comentário sobre a evolução das residências da nobreza galega constitui uma breve lição a<br />

respeito da história da Galiza, da Idade Média até o séc. XVI, para os leitores brasileiros 560 .<br />

Por outro, na descrição do paço de S. Martinho de Názara apresenta-se um paradigma do<br />

que fora o gosto doméstico da fidalgia galega. Podemos supor qual fora um dos modelos<br />

palacianos tomados por Las Casas pois, ao se referir ao grande letreiro que havia sobre a<br />

entrada principal do paço diz que nele se escrevera, “em fim de século”: “Nadie pasará este<br />

umbral/ sin que diga por su vida:/ María fué concebida/ sin pecado original” (Las Casas,<br />

1938: 14). Ora, em Na labareda dos trópicos (Las Casas, 1939: 155) menciona que essa<br />

mesma consigna, ou saudação, fora lavrada na porta da casa dos seus avôs em Sabucedo de<br />

Montes. Isso, no entanto, não quer dizer que a casa dos avôs do produtor recebesse no paço<br />

de S. Martinho de Názara a sua projeção literária. Acreditamos que o paço de Os dois seja<br />

uma representação estereotipada do paço galego que, ad hoc, cria Las Casas através da sua<br />

personagem, o autor do diário. Las Casas, inclusive, inventa uma linha genealógica para os<br />

seus proprietários do paço, cujas armas, sobrepostas na cruz dos cavaleiros de São João de<br />

Malta, são analisadas por Fernando 561 , e indica como se chega até ele:<br />

O paço de S. Martinho de Názara, construído em 1648 por dom Vasco Gayoso y Sandoval, fica<br />

situado numa profundeza, entre rumor de mato e incessante trinar de pássaros. Chega-se-lhe ao pé<br />

por um caminho de ardósias, onde os cavalos resvalam e a água brinca a fazer cachoeiras para<br />

liliputianos, e a vista o distingue de longe por uma grande chaminé que parece o castelo de Herodes<br />

dos contos (Las Casas, 1938: 14).<br />

Fernando diz que no paço de São Martinho de Názara, “nobre e rústico, imponente e<br />

acolhedor”, nasceram:<br />

Priores de S. Bento, professores de Salamanca e Alcalá, cavaleiros de Ronda e de Granada, alcaides<br />

de Segura de Leon e de Mombeltran, vice-reis do Peru e capitães-generais de Andalúcia. Hoje<br />

560 Sobre o abandono dos castelos e a sua substituição, por parte da nobreza galega, pelos paços como<br />

principal lugar de residência, Las Casas (1938: 13-14) faz a seguinte apresentação: “Os castelos galegos ficam<br />

situados no alto das montanhas; não podia ser de outra maneira, dado o seu caráter militar e a guerreira<br />

agitação da nossa sempre ensangüentada Idade Média. Ao iniciar-se o século XVI – fortalecida a coroa,<br />

pacificada a nobreza, afastado o campo das nossas contendas para além das fronteiras peninsulares – os<br />

nobres abandonaram as suas ciclópicas residências serranas, desceram para o abrigo dos vales e construíram<br />

belos palácios sob a sombra espessa dos castanheiros e o alto e monocórdio monólogo dos riachos. A palavra<br />

palácio contraiu-se e ficou reduzida a paço, o qual é distinguível por uma série de circunstâncias comuns a<br />

todas essas residências senhoriais: Capela, foros, brasão, pombal e ciprestes”.<br />

561 O personagem Fernando comenta que o escudo do paço,, “sob uma cimeira aberta que desfralda três penas<br />

revoltas de avestruz”, se compõe de quatro quartéis que representam a honoráveis estipes galegas: “no<br />

primeiro figuram as três trutas dos Gayosos; no segundo o pinheiro entre as dez lanças dos Caamaños; no<br />

terceiro, as três bandas dos Ribera e no quarto as cinco estacas dos Varcalcel, todos apelidos bem galegos e da<br />

mais limpa e nobre origem” (Las Casas, 1938: 15).<br />

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