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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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no Brasil, o ânimo de conseguir, em curto prazo de tempo, abundantes ganâncias não era<br />

acompanhado da consciência, ou da sensação, de poder receber as contribuições de campos<br />

sociais evoluídos.<br />

Embora compartilhem a condição de refugados pelas reconversões econômicas das<br />

suas sociedades de origem e, portanto, de desenraizados, os emigrantes europeus chegados<br />

ao continente americano entre meados do séc. XIX e a década de 1950 e os emigrantes<br />

(europeus, africanos, asiáticos e latino-americanos) assentados nos países mais<br />

desenvolvidos da Europa após o final da Segunda Guerra Mundial diferem no seu estatuto<br />

de alógenos no sentido de que os segundos faziam parte de países que se encontravam<br />

submetidos por relações de dominação tanto econômica quanto simbólica aos países aos<br />

que emigravam.<br />

O estado anterior à emigração em que se acham os sujeitos migrantes cria, pois,<br />

uma hierarquia na classificação do trabalhador estrangeiro a partir de parâmetros<br />

associados ao poder simbólico que projeta o país de onde eles provêm. Esse poder<br />

simbólico, e a falta desse poder simbólico, incidirão no grau de aceitação do trabalhador<br />

estrangeiro. Na hierarquia aludida, o topo estará marcado pelo desejo de que o trabalhador<br />

estrangeiro, além de realizar adequadamente o serviço que assuma, mostre e forneça, na<br />

pratica, modelos de comportamento, de gostos, e formas para acometer empreendimentos,<br />

isto é, as virtudes civilizatórias acima mencionadas. O grau ínfimo dessa hierarquia é<br />

afetado por disposições que limitam o trabalhador estrangeiro a realizar o trabalho relegado<br />

para ele, isto é, um trabalho para imigrantes que é tal porque os trabalhadores nacionais não<br />

o ocupam por considerá-lo indesejável. Os serviços indesejáveis que fazem os imigrantes<br />

projetam sobre eles o caráter de sujeitos indesejáveis 62 , convertendo-se em postos de<br />

62 O uso em documentos oficiais brasileiros do termo indesejáveis foi freqüente nas décadas de 1930 e 1940<br />

para qualificar o mau trabalhador nacional. Na separata O problema dos indesejáveis, de Leão Machado<br />

(1945), publicada pelo Serviço de Documentação do Departamento do Serviço Público do Governo do Estado<br />

de São Paulo e que faria parte revista carioca Administração Pública, o adjetivo indesejáveis é<br />

especificamente colocado aos indivíduos de todos os setores da Administração Pública – “vadios e inúteis” –<br />

que, sendo ineficientes e improdutivos, percebiam os seus salários sem trabalhar e que, com a sua semvergonhice,<br />

davam um péssimo exemplo aos funcionários da repartição à qual foram destinados. Leão<br />

Machado (1945: 3) expõe o seguinte: “O dano causado pela abstenção do trabalho é incomparavelmente<br />

maior do que o resultante da ineficiência, porque um indivíduo em qualquer função pode ser ineficiente,<br />

apesar de operoso, uma vez que essa ineficiência resulte da inadaptação. Mas, enquanto que o funcionário<br />

operoso, de pequena capacidade de trabalho ou de relativa inaptidão intelectual, consome todo seu tempo para<br />

apresentar uma produção defeituosa e de baixo rendimento, o vadio, que não faz nada, nem bem.nem mal,<br />

fica com todo o seu tempo disponível para tecer intrigas, fomentar a maledicência ou quando menos para<br />

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