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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Todavia, há um outro traço, reiterado entre os imigrantes galegos, que não se pode<br />

aplicar às personagens da narração de Eduardo Dias. Assim, frente à predominância, na<br />

imigração, dos membros jovens e varões das famílias rurais galegas, a família de Vítor,<br />

andaluza, emigra toda ela, incluindo a avó, velha e cega. Esta era uma opção muito<br />

arriscada porque, por um lado, caso não desse certo o projeto de vida no estrangeiro, ficava<br />

dificultado o regresso à terra natal, tanto por se haverem vendido as posses para o<br />

financiamento das passagens de toda a família quanto por não permanecer nenhum parente<br />

próximo que pudesse preparar a volta e apoiar os retornados dando-lhes hospedagem e<br />

buscando-lhes novos empregos.<br />

Por outro lado, o traslado de toda a família dificultava tanto a mobilidade até<br />

encontrar o emprego mais conveniente quanto a capacidade de poupança, ao ter o cabeça de<br />

família que aceitar a primeira fonte de ingressos que permitisse pagar o alojamento de todos<br />

e a manutenção dos que não podiam trabalhar e se sustentar por si mesmos.<br />

Vítor comenta que ele e a sua família, logo de haverem sido acolhidos durante<br />

alguns dias pela família que formara no Brasil sua tia materna, passaram a residir em um<br />

pequeno cômodo alugado em um cortiço que fazia parte de uma vila na rua Ana Néri, na<br />

Mooca. O cortiço tinha uma latrina coletiva e duas cozinhas com fogão a lenha que deviam<br />

compartilhar oito famílias. Como ele e suas irmãs ainda eram muito pequenos, e sua mãe<br />

tinha que cuidar deles, da avó e da casa, o único que trabalhava era seu pai, que só pudera<br />

conseguir um emprego de pedreiro:<br />

Meu “velho” estava trabalhando na construção civil. Não sabia escrever nem ler. O único serviço<br />

possível era esse. Carregava ao ombro uma lata cheia de reboque, que era levada ao pedreiro, no vaivem<br />

do dia... jogava os tijolos, as telhas... Por anos a fio, até o envelhecimento, fizera isto. No fim da<br />

vida as suas mãos nem fechavam de tantos calos. Nunca pensara em riquezas. Emigrara, não para<br />

encontrar ouro, mas para encontra tranqüilidade. Só pensava em trabalho. Nada mais que trabalho. O<br />

sustento da família, era essa a sua preocupação. Jantava e já ia para a cama “morto” de cansaço<br />

(Dias, 1983: 18).<br />

Vítor começara a estudar de manhã no Grupo Escolar da Mooca. Ao não ter espaço<br />

próprio no cômodo, passava as tardes jogando peladas na rua com outros meninosimigrantes,<br />

rotina que se rompia aos domingos ao poder assistir a uma sessão de cinema no<br />

Cine Moderno. Dentre os seus companheiros de jogos, destaca o Paquito, de uma família<br />

andaluza de La Línea que morava na vila La Mierda, no bairro da Mooca. Paquito fora o<br />

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