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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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produto literário seja canonizado, tornando-se uma referência prestigiosa cuja indicação<br />

faz-se obrigatória para fins de contraste ou para alcançar o status, e o amparo, de obra<br />

admissível no epigonismo, a alusão a esse produto far-se-á prescindível para outros<br />

viajantes que desejem imbuir a sua prosa da admiração e da emoção causadas pela visão do<br />

inesperado.<br />

Nesse sentido, Daglio é explícito, pois só recorre aos viajantes estrangeiros que o<br />

antecederam para refutá-los, pretendendo inaugurar com as suas próprias impressões, uma<br />

mirada distinta sobre o Brasil. Ele diz que “deseando ser fiel a la verdad, y no queriendo<br />

emitir un juicio erróneo sobre el temperamento brasileño he leído varios libros que tratan de<br />

la materia, aunque más no sea superficialmente” (Daglio, 1951: 124). O seu parecer marca,<br />

pois, segundo ele, a inflexão na apreciação do talante do povo brasileiro. De todas as<br />

formas, não nomeia todos os viajantes que critica; limita-se a indicar um, que deve ter sido<br />

considerado por ele suficientemente significativo. Trata-se de Hermann Graf Keyserling, ao<br />

que qualifica como “el ilustre sociólogo alemán”, cujo sobrenome utiliza para intitular um<br />

capítulo, Keyserling se equivocó, dedicado a contrastar, com a sua, as visões dos outros<br />

viajantes que julgaram o ânimo do povo brasileiro. Daglio não esclarece a que obra de<br />

Keyserling se refere, mas supõe-se que se trata de Südamerikanische Meditationen, a cuja<br />

edição em francês [Méditations sud-américaines (Keyserling, 1932)] ele deveu ter acesso.<br />

Daglio assevera que Keyserling, e outros estrangeiros 113 , erraram ao perceberem os<br />

brasileiros como pessoas tristes e apresenta-se a si mesmo como o revelador do engano:<br />

113 Os estrangeiros – visitantes, turistas ou intelectuais –, aos que Daglio reconhece autoridade intelectual, que<br />

havendo viajado, como convidados, pelo Brasil, emitiram opiniões negativas sobre o país, são tachados por<br />

ele de ingratos e indelicados: “Inteligencias del panorama mundial, atraídos al Brasil por el registro de<br />

cheques relinchantes y obsequiados en esta tierra de la generosidad por la hospitalidad más fidalga, han<br />

proferido, de regreso a su tierra, la inelegancia espiritual de un juicio temerario y erróneo. Hubo uno, yankee<br />

del “Life”, que lapidó al Brasil con tres palabras sentenciosamente falsas: “Portentoso fracaso humano”. Hubo<br />

otra, conferencista famosa, que, obnubilado su poder receptor por abluciones internas de whisky, escribió un<br />

famoso reportaje en que afirmaba haber visto serpientes en la avenida Rio Branco. Los brasileños, que son<br />

dueños de una bondad señorial, sonríen del visitante ingrato y perdona la crítica acerba. Con su noble actitud<br />

se asemejan a la madera del sándalo que perfuma el hacha que lo hiere” (Daglio, 1951: 124). Todavia, das<br />

valorizações que o irritam e visa refutar só concretiza um dos supostos assuntos negativos nelas contidos.<br />

Trata-se da tristeza indicada como traço marcante da identidade do povo brasileiro. Daglio (1951: 124) referese<br />

a como esse traço era apresentado na imprensa francesa: “En reportajes de revistas francesas he leído: Le<br />

peuple bresilien est triste, il ne connait pas la joie de la vie nocturne.”; ele considera que juízos desse tipo são<br />

errôneos, pois partem de observadores estrangeiros que entendem que a tristeza de um povo se mede pela<br />

intensidade da sua vida noturna, um barema inadequado, na opinião de Daglio, porque reflete o talante<br />

devasso do equivocado observador estrangeiro, quem anela satisfazer no Brasil, mediante diversões<br />

licenciosas, o aborrecimento que sente no seu país de origem. Sendo assim, Daglio auto-proclama-se o agente<br />

encarregado de denunciar as prosas oprobiosas contra o Brasil e de, justificadamente, comentá-las e desmenti-<br />

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