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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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nacionalidade faz também parte do conto A volta do marido pródigo, presumivelmente<br />

escrito por João Guimarães Rosa a meados da década de 1930, embora só fosse publicado<br />

em 1946, fazendo parte de Sagarana. Nele, Lalino [Eulálio] de Souza Salãthiel, figura<br />

notável pela habilidade para envolver teatralmente em suas confusões os seus interlocutores<br />

por meio de um discurso artificioso – cujo retrato compartilha traços com os estereótipos do<br />

mulato malandro brasileiro –, vende as suas poucas posses a um camarada, e sua mulher –<br />

Maria Rita –, a um imigrante espanhol, “bestalhão e bigodudo”, o senhor Ramiro, para,<br />

com o dinheiro reunido, poder ir morar no Rio de Janeiro, onde deseja cair na gandaia e<br />

dedicar-se à devassidão com prostitutas estrangeiras. Esse espanhol, a quem também se<br />

refere Lalino como “gringo” ou “estranja”, integrava uma “espanholada” que trabalhava na<br />

construção de uma estrada no interior de Minas, em Itaguara, perto de Montes Claros.<br />

Acabado o dinheiro, aborrecido com o seu fracasso perante as vadias como galã, e frustrado<br />

pelo difícil dia-a-dia carioca, Lalino decide regressar a Minas e recuperar a sua mulher sem<br />

devolver o dinheiro que recebera em troca. Lalino retorna com presunção cosmopolita e<br />

finalmente recupera a sua mulher amasiada sem ter restituído o montante a Ramiro. Em<br />

Itaguara, os espanhóis se assentaram após terminarem a construção da estrada. No conto<br />

justifica-se como se segue essa decisão: “Compraram um sítio, de sociedade. E fizeram<br />

relações e se fizeram muito conceituados, porque, ali, ter um pedaço de terra era uma<br />

garantia e um título de naturalização” (Rosa, [1946] 1983: 86). Para receber o apoio dos<br />

seus amigos nativos, Lalino, por um lado, recorre ao discurso da xenofobia:<br />

Olha, su Jijo, pois enquanto você estiver ajustado com esse pessoal, nem fale, hein?!... Nem quero<br />

que me dê bom-dia!... Olha: eu estou vindo da capital: lá, quem trabalha p’ra estrangeiro,<br />

principalmente p’ra espanhol, não vale mais nada, fica por aí mais desprezado do que criminoso... É<br />

isso mesmo. E nem espie p’ra mim, enquanto que estiver sendo escravo de galego azedo! (Rosa,<br />

[1946] 1983: 91) 182 .<br />

Por outro, ele põe-se a serviço do Major Anacleto, o coronel da região, que utiliza<br />

Lalino como gancho eleitoral. Lalino acaba se convertendo no principal articulador político<br />

do Major, de quem recebe o reconhecimento pelo seu labor e a quem pede auxílio para<br />

produtivo, pelo território nacional inteiro, não é o chinês, alemão, japonês, hespanhol, italiano ou português,<br />

mas qualquer que seja, uma vez que à sombra do labor fecundo, coopere para a nossa felicidade econômica”.<br />

182 Dentre todo o corpus rosiano, é em Sagarana onde aparece a única referência aos galegos. Na obra O<br />

léxico de Guimarães Rosa, Nilce Sant’Anna Martins comenta o uso que Rosa dá ao termo galego no conto “A<br />

volta do marido pródigo”: “GALEGO. E nem existe p´ra mim, enquanto que estiver sendo escravo de galego<br />

azedo! (S-II, 90/105)./ Natural da Galícia; esp.; (por ext.) estrangeiro.// Conot. Pejorativa reforçada pelo<br />

adjetivo.” (Martins, 2001: 243).<br />

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