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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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germanos – “pero germano lo era!” –, fora com certeza o Rei Bermudo II, apelidado “el Gostoso”,<br />

que a desilustração de Pepito em história espanhola não deixava ver como o monarca leonês débil e<br />

enfermiço, serviçal dos árabes para sustentar-se no trono, mas como “un denodado defensor de la<br />

religión cristiana, en la cual nosotros hemos nacido, en la cual he de morir” (Araújo, 1987: 14).<br />

No fragmento supra, contêm-se duas características distintivas apostas pelo autor à<br />

maioria dos galegos soteropolitanos: a sua visceral adesão a quem ostentasse o mando, sem<br />

se importarem com a lealdade a princípios ideológicos e com o conseqüente cinismo que<br />

transparecia a sua volatilidade política, e o uso de uma interlíngua construída sobre o<br />

portunhol e o galego. O autor comenta que, no Club de España, durante a II República era<br />

majoritário o grupo de partidários desse regime, fazendo-se todos eles franquistas à medida<br />

que se prenunciava o resultado da guerra para, com a redemocratização, se declararem<br />

genuínos esquerdistas:<br />

Estavam bem longe, os menos sociáveis em suas fainas diárias, os mais proeminentes no centro da<br />

cidade, num coquetel no Gabinete Português de Leitura, em que se homenageava um enviado<br />

especial de don Juan Carlos, o rei da monarquia recém-restaurada. Em entrevista que a diretoria do<br />

Club de España concedeu ao jornal A Tarde, deixou-se bem claro: os que ali estiveram – e os que não<br />

estiveram – sempre haviam sido socialistas da velha guarda, marxistas e anarquistas da melhor<br />

estirpe até, ferrenhos adversários, todos, do ditador Franco (Araújo, 1987: 15).<br />

Durante a II República, o nome de D. Ramón Fernández fora cogitado para o propor<br />

como Cônsul na Espanha na Bahia, mas terminada a guerra, a Junta do Club de España<br />

decidiu expulsá-lo por ele ter feito propaganda em favor da II República e por terem sido<br />

remetidas à associação cartas anônimas que o acusavam de atuar como espião republicano<br />

na Bahia. Assim descreve o autor o cenário do Club de España no dia em que D. Ramón<br />

Fernández lá compareceu e lhe foi comunicada a sua exclusão:<br />

Numa noite de sábado, resolveu aparecer no Club de España, do qual era sócio de pouca freqüência,<br />

lá ia, de raro em raro, atraído pelas revistas espanholas recebidas. Tinha havido modificações no<br />

salão de festas, encontrou-o recoberto de bandeiras espanholas e retratos do Caudilho e de Getúlio<br />

Vargas. Na parede do fundo, haviam estendido uma faixa pintada com os seguintes dizeres, em<br />

grandes letras de desenho mal finalizado: “Franco Salvación de España”.<br />

Era boa a afluência ao clube, na ocasião, por ser um feriado de Dois de Julho na cidade. Pequenos<br />

grupos conversam animadamente, sentados às mesas ao longo do salão e da varanda, que olhava para<br />

o Areal de Cima. A uma delas, reservada aos diretores, estavam o presidente e o secretário, Joan e<br />

Gregorio Maragall, pai e filho, os dois únicos catalães da Bahia, eleitos em polêmicas eleições que<br />

desgostaram a massa da colônia galega. Jogavam cartas em torno de uma garrafa de xerez (Araújo,<br />

1987: 34).<br />

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