26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

espeito, em nota de rodapé, que “Foi a mesma cintilação do gênio camoniano, violenta<br />

exteriorização do seu desalento diante dos males que a vida lhe proporcionava”.<br />

Não foi localizada essa expressão, ainda viva na língua galega e de uso inclusive<br />

estendido à literatura espanhola 210 , em nenhum outro produto da literatura brasileira.<br />

Também não foram encontradas referências sobre o seu uso na cidade de Salvador da Bahia<br />

no séc. XVII, então, capital do Brasil. Cabe lobrigar, como conjetura, que o fato de<br />

Gregório de Matos ser descendente de galegos procedentes da cidade de Guimarães<br />

(Minho), que se instalaram na Bahia no início do século XVI, ou a sua longa estadia em<br />

Portugal (de 1650 a 1678 [ou 1681]) 211 , talvez possam ter influenciado para que essa<br />

expressão ficasse incorporada ao idioleto do poeta.<br />

Uma outra conjetura para explicar o uso dessa expressão por Gregório de Matos é a<br />

moda seiscentista – própria dos letrados no barroco português – de inserir provérbios e<br />

frases feitas, vocábulos latinos e espanhóis e, inclusive, palavras com acepção estranha ao<br />

Português, mas peculiar à língua espanhola. Nesse sentido, Spina (1995: 67-69) destaca que<br />

El Parnaso Español de Francisco de Quevedo, junto às Soledades de Luis de Góngora,<br />

constituem modelos dos quais derivaram muitas sugestões, muitos temas, e até versos<br />

inteiros gregorianos, criando-se o que se considera uma relação explorável através do<br />

conceito de intertextualidade 212 .<br />

Em outro poema, intitulado Confusão do Festejo do Entrudo, o boca do inferno<br />

descreve, em um soneto, as ações, e a balbúrdia, que decorriam durante as festas do<br />

Carnaval em Salvador 213 . O cadinho dos elementos que compunham o festejo baiano<br />

210 Em um dos estudos dedicados ao informe do Mestre João (Simões, 1999), asus forjas y demás bienes; no<br />

se contentan con nada, se visten de todas las maneras y siguen todas las modas, malcrían a los niños, los<br />

visten como principitos, ceden a todos sus caprichos; el maestro no puede pegarlos, reñirlos o tocarlos.<br />

Comen magníficamente; lo corriente son dos ollas, una dulce, otra salada, y a menudo hay comidas de<br />

invitados en las que no se privan de nada, jarabes, pasteles, chocolates, bizcochos...; Bah, ¡que arda Bayona!,<br />

como decía uno de estos insensatos”.<br />

211 Nesse período, Gregório de Matos formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra em 1661, foi<br />

nomeado juiz-de-fora em Alcácer do Sal (Alentejo) em 1663; em 1672 tornou-se procurador de Salvador<br />

junto à administração lisboeta.<br />

212 Segundo Spina (1995: 174), poder-se-ia argüir que há claras imitações entre alguns dos versos de “Aos<br />

Vícios” com algum terceto da “Epístola satírica y censoria contra las costumbres presentes de los castellanos,<br />

escrita a Don Gaspar de Guzmán, Conde de Olivares, en su valimiento”. O paralelismo é nítido entre os<br />

seguintes versos do terceto de Quevedo: “¿No ha de haber un espíritu valiente?/ ¿Siempre se ha de sentir lo<br />

que se dice?/ ¿Nunca se ha de decir lo que se siente?” e os compostos por Matos: “De que pode servir calar<br />

quem cala?/ Nunca se há de falar o que se sente?!/ Sempre se há de sentir o que se fala”.<br />

213 Os versos do soneto Confusão do Festejo do Entrudo são os seguintes: “Filhós, fatias, sonhos, malassadas,/<br />

Galinhas, porco, vaca, e mais carneiro,/ Os perus em poder do pasteleiro,/ Esguichar, deitar pulhas,<br />

277

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!