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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Brasil em uma seção que intitula Adeus. Trata-se de umas poucas linhas em que saúda as<br />

terras e os céus que viu e os amigos com que conviveu, e nas quais evoca elementos<br />

simbólicos da cultura indígena e da cultura africana que conheceu:<br />

Adeus, meu Norte querido! Repetiria esta viagem sem medo de fazê-la de joelhos. Ah, que saudades<br />

tenho!... Ainda me parece que estou no Tarumã, na Cachoeira dos Passarinhos, ouvindo a lenda da<br />

rainha que se enamorou do caboclo; ou na Baía, no terreiro da Gomea, iniciando-me nos ministérios<br />

alucinantes do Pejí; ou em S. Luiz, na véspera da partida, altas horas da noite, quando... vocês<br />

lembram aquele conselho que Wilde deu a Lady Agata para renovar a mocidade?<br />

Adeus terras benditas, por onde meus pés peregrinos cruzaram santificando-se; adeus céus impolutos<br />

das minhas alvoradas mais queridas; adeus amigos, com os quais convivi nos diálogos mais<br />

carinhosos. Adeus, não: até breve! (Las Casas, 1939: 180).<br />

Essa despedida, mediante epifonema, das regiões Norte e Nordeste converteu-se,<br />

segundo o corpus que reunimos de Las Casas, na sua despedida literária de todo o Brasil. É<br />

possível que, logo de abandonar o país para se assentar na Argentina e no Chile, Las Casas<br />

se tenha referido ao Brasil em palestras e artigos jornalísticos. Las Casas, de fato, ainda<br />

regressará ao Brasil em 1950. Ele aportou no Rio de Janeiro na travessia em que<br />

definitivamente regressou à Espanha partindo de Buenos Aires. Durante essa escala ele<br />

palestrou na capital federal. Todavia, Na labareda dos trópicos foi o derradeiro produto<br />

literário da sua autoria publicado no Rio, embora em 1940, como ensaísta, ainda publicasse<br />

em Buenos Aires uma breve biografia intitulada Ana Amelia: guía de los universitarios<br />

brasileños, sobre a poetisa e tradutora carioca Ana Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça.<br />

A satisfação que sentia por poder residir no Brasil e o entusiasmo que nele provocava o<br />

Copacabana, surgem milhares de moças de nácar, presas pelas mãos, todas em fila, executando passos de<br />

contradança, que flautistas escondidos acompanham do alto dos morros; súbito, qual um atum gigantesco,<br />

salta e desaparece, a nosso lado, um penhasco enorme que fica mergulhado não se sabe onde; agora, no<br />

anfiteatro de Botafogo, bailam ritmos guerreiros, verdadeiras legiões de donzéis desnudos, e bem em<br />

derredor, mesmo ao alcance da mão, imponente, como os icebergs polares, marcham, esmagadores, e se<br />

somem, como ao sopro de um sortilégio, montes elevados e calvos que parecem sorver-nos com seu alento.<br />

Agora, a terra vomita uma praga de vagalumes luminosos, que trepam ardorosos pelas ladeiras de Santa<br />

Teresa. Agora, os bailarinos pulam, uns em cima dos outros, e formam altíssimos castelos de luz no pórtico<br />

alucinante da Cinelândia. Já estamos na apoteose do bailado: uma sombra toma-nos pelas mãos e arrebatanos,<br />

como a correr em zig-zag, daqui para ali, fazendo-nos bailar também com agilidade mercuriana, entre<br />

racimos de bailadores, que cantam em coros hinos ao amor e à eternidade. – Contornamos as ilhas. A<br />

bombordo e a estibordo ouvem-se os coros, grandiosamente polifônicos, e distingue-se a cor de cada voz que<br />

canta num revérbero de alucinação. O mar tremeluz, esmaltado de pés de ouro, que picotam, com beijos<br />

nervosos, sobre a superfície límpida de jades e ametistas. Achamo-nos dentro de uma grande opala, e vamos<br />

adormecendo no resfôlego voluptuoso e fatigado de uma imensa floresta virgem; zumbem a nossos ouvidos<br />

divinas promessas, nossos olhos vêem pela primeira vez coisas nunca vistas e, de repente, percebemos que<br />

tudo ficou imóvel, que tudo guarda a quieta atitude dos melhores momentos, que toda a creação parou em<br />

êxtase, que estamos na Guanabara – inundados de luz e cheios de prazer sereno”.<br />

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