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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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povo brasileiro não absolutizara a tristeza como traço distintivo. De fato, Keyserling referese<br />

ao Brasil destacando, sobretudo, a delicadeza como atitude que caracterizava as relações<br />

humanas no meio público. A palavra delicadeza intitula, inclusive, o capítulo em que mais<br />

menções há sobre a identidade brasileira, no qual se expõe que, frente ao modo de<br />

funcionamento do aparelho do Estado da Rússia Czarista, a autoridade no Brasil era<br />

imposta com suavidade e discrição.<br />

Daglio, ademais, desconhece ou omite que a primeira obra em que se refletiu acerca<br />

da melancolia como um traço identitário do caráter nacional brasileiro correspondia a um<br />

paulista, Paulo Prado (1928), autor de Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira,<br />

e que no produto Brasil, país do futuro, Stefan Zweig (1941), dentro do seu otimismo a<br />

respeito do destino do Brasil, enxergara no brasileiro um homem triste. De todas as formas,<br />

quatro anos após a publicação de Kodak, Claude Lévi-Strauss (1955) canonizará a<br />

percepção da tristeza do Brasil com o seu Tristes Tropiques. Contudo, a principal<br />

representação que Daglio encontra do caráter feliz dos brasileiros é o samba e o carnaval.<br />

Acreditamos que, frente aos livros de impressões de viagem de autores estrangeiros<br />

de primeira metade do séc. XX, normalmente entusiastas a respeito da cidade maravilhosa,<br />

uma das singularidades de Kodak estriba na sua crítica às condições da cidade do Rio de<br />

Janeiro como sede da capital federal. Ao Rio, Daglio (1951: 81-89) dedica um capítulo –<br />

Los últimos días de Río Janeiro –. Ele opina que essa cidade, a pesar da sua beleza natural,<br />

não comportava mais os requisitos que permitiriam a modernização da alta administração<br />

do país; assim, qualifica o Rio como uma cidade “demente”, sobretudo pelo seu trânsito,<br />

mas também pelo tumulto que nela geravam as incontroláveis aglomerações humanas, pela<br />

carestia da vida gerada pelos problemas para o abastecimento de alimentos, pelas<br />

constantes inundações, e pelas dificuldades, causadas pela topografia, para a expansão<br />

urbana e para o aumento das habitações. Diz, baseando-se em estatísticas da ONU, que o<br />

Rio “es la ciudad más cara del mundo” e que, na capital federal, pela sua própria<br />

experiência, “Todo es extranjero, todo es enlatado, todo es carísimo. [...] Un almuerzo<br />

comercial en cualquier restorán de Río, cuesta idéntico precio que el consumido en un<br />

establecimiento de N. York. Los alquileres son también fabulosamente elevados”. Por<br />

conseguinte, ele acredita que era acertada a intenção governamental de construir uma nova<br />

cidade no Planalto Central para onde transferir a capital federal, pois, do centro do país,<br />

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