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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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expressando: “Sinto na boca flores de alecrim. Quisera morrer agora, assim, como quem<br />

fica dormindo” (Las Casas, 1938: 171).<br />

Os viajantes estrangeiros que percorreram a Galiza, especialmente os que<br />

peregrinaram ou viajaram até ela para visitar o túmulo de Santiago, são também assunto<br />

para as redações de Fernando. Ele cita os que ele qualifica de mais ilustres nas anotações<br />

que faz aos 19 de dezembro (Las Casas, 1938: 66-67). Parte de George Borrow (“nenhum<br />

teve de lutar com tantos obstáculos e percalços como o desditoso propagandista da<br />

Sociedade Bíblica”), quem teria aberto o caminho a um novo tipo de viajantes, “menos<br />

crentes e mais estudosos, mas comenta que têm sido inúmeros os que até Compostela foram<br />

“através de oito séculos, desde o pontificado metropolitano de Gelmirez”. Explica, assim,<br />

as idas por devoção a Compostela e a importância simbólica dessa cidade para a formação<br />

da Europa:<br />

Os mais altos personagens europeus cumprem promessas rumo ao Pico sacro, e o Dante pode<br />

escrever com razão que “non s’intende pellegrino senon chi va verso la casa di San Jacopo”. Em<br />

Compostela se falam todas as línguas e dialetos do mundo, e a consciência européia nasce, na<br />

realidade, pelos caminhos da peregrinação (Las Casas, 1938: 66).<br />

Critica, no entanto, nas suas anotações de 19 de junho, o talante de alguns viajantes<br />

pesquisadores. Qualifica-os de intelectuais esportivos, e vincula a superficialidade e a<br />

banalidade das suas investigações à indolência da época:<br />

Hoje almoço conosco uma senhora alemã que anda percorrendo a Espanha para estudar trajes<br />

populares. Como todas as senhoras da sua espécie, é muito rica, muito inteligente e muito audaciosa.<br />

Milhares de estudiosos andam assim pelo mundo adiante estudando sapatos, pandeiros, cachimbos,<br />

bordados, caixas de fósforos, guarda-chuvas, queijos e danças. Estas viagens significam esforço e<br />

sacrifício. Supõem uma preocupação intelectual pura? Não acredito; entendo melhor, que, ao lado da<br />

vocação investigadora, há muito do temperamento esportivo que caracteriza as nossas gerações. Os<br />

milhões de homens civilizados que ainda povoam o mundo, vivem em forma esportiva, como na<br />

idade média viviam em preceitos litúrgicos. Uns, os mais virgens, entregam-se ao esporte por instinto<br />

e circunscrevem nele os seus fins; outros, os mais cultivados, envolvem-se nele por mimetismo e o<br />

aceitam como meio ao serviço de uma ilusão qualquer, que chamamos científica, porque na nossa<br />

pobreza mental já tudo nos parece ciência, e, em vez de viajar simplesmente para conhecer a<br />

aventura dos caminhos, viajam para recolher insetos ou colecionar flores secas. Quantos alpinistas eu<br />

vi disfarçados de geólogos! (Las Casas, 1938: 132).<br />

o tivessem deitado nos meus braços. Foi só um instante. De pronto senti-me horrorizado de tanta maldade e<br />

ofereci à pobre pequena as carícias mais humildes e comovidas” (Las Casas, 1938: 170).<br />

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