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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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com que ele mude as suas leituras, abandonando os nobiliários e passando a ler ensaios<br />

sobre a civilização clássica 567 . Conversa também sobre os amores malditos convertidos em<br />

assunto literário. Interroga Luiz sobre as leituras que ele tem feito sobre esse tema;<br />

pergunta-lhe se lera L’Androgine de Sar Peladan, mas Luiz responde-lhe que esse tipo de<br />

livros lhe dão medo e brinca comentando-lhe que só se sentira refletido em um personagem<br />

de “novela”, no Bom caboclo [Bom-crioulo] de Adolfo Caminha [Adolpho Caminha], ao<br />

qual Fernando replica:<br />

Li um livro maravilhoso que vou encomendar no Brasil, e que terei muito gosto em oferecer-te: “O<br />

Ateneu” de Raul Pompéia. Descreve a vida dum colégio, um colégio como o nosso, lembras-te? Nas<br />

suas páginas, umas palpitantes de graça e outras como tintas de sangue, aparecemos tu e eu. Vamos<br />

ver se te encontras nelas tão facilmente como eu me encontrei (Las Casas, 1938: 69-70).<br />

Um dos livros regalados por Fernando a Luiz intitula-se Dandysmo, de Barbey<br />

d’Aurevilly, “encadernado em veludo verde”. O 13 de julho escreve que na tarde desse dia,<br />

no jardim, eles ficaram lendo sob os magnólios e que, enquanto Luiz estudava o Dandysmo,<br />

ele lia ao serviçal João passagens do último capítulo do Quixote, “o livro mais famoso e<br />

belo de quantos se têm escrito no decorrer dos séculos” (Las Casas, 1938: 142). Fernando<br />

registra que, ao rematar a leitura, o serviçal, impressionado, lhe comentou que achara que<br />

ele fora um Quixote, ao qual ele lhe respondeu: “– Sim, meu filho, e como ele vou<br />

morrendo, também ferido de chagas que não se vêem e afogado de lágrimas que ninguém<br />

olha” (Las Casas, 1938: 142).<br />

No entanto, Fernando põe limites à dimensão dos ensinamentos que ele está<br />

disposto a repassar a Luiz. Aos 10 de dezembro escreve que esclarecera a Luiz que ele<br />

estava disposto a aconselhá-lo sobre a prática da distinção mediante a cultura e a elegância,<br />

mas não à prática do amor:<br />

– Mas... sou eu que quero saber.<br />

– Procura outros mestres, tanto mais que no amor o mestre sempre tem de ser amante. Nós não<br />

estamos neste caso.<br />

– Ou amado.<br />

567 A assunção, por parte de Luiz, do gosto por leituras que o ilustrem sobre o mundo clássico é assim anotada<br />

no seu diário por Fernando (Las Casas, 1938: 62), quem destaca os livros que Luiz tira da sua escrivaninha e<br />

aqueles com os quais os substitui: “Reparei que na mesa de trabalho de Luiz já não está o nobiliário de Vasco<br />

da Ponte, nem o do Pe. Gandara, nem o grande dicionário heráldico dos Garrafa, nem o pequeno Gotha, onde<br />

se vão encontrar as genealogias de toda a fidalguia européia. Lá estão agora a “História da Arte” de Pijoan, o<br />

“Apolo” de Salomão Reinach, a “Vida pública e privada dos gregos” de Paul Giraud, e o tomo IV da<br />

“História Universal” do Instituto de França, aberto onde Duruy estuda os oráculos”.<br />

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