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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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significa restringir a liberdade do deslocado e significa forçá-lo a ficar ancorado em um<br />

passado ao qual, talvez, o deslocado nunca possa voltar ou, se regressar, ao qual o<br />

deslocado não deseja se ligar de novo. A aculturação resultará dificultada se a sociedade<br />

receptora oferece ao estrangeiro os benefícios de uma hospitalidade baseada na atração pelo<br />

exótico, na qual se almeja que o caráter excêntrico do estrangeiro se conserve para que os<br />

nativos possam desfrutar da observação direta das particularidades de uma cultura forânea.<br />

Embora Todorov não aprecie as virtudes do nomadismo sistemático, nem a acumulação<br />

ilimitada de empréstimos culturais, ele acredita que a aculturação é um direito do indivíduo.<br />

Ele diz o seguinte:<br />

Condenar o indivíduo a continuar trancando na cultura dos ancestrais pressupõe de resto que a<br />

cultura é um código imutável, o que é empiricamente falso: talvez nem toda mudança seja boa, mas<br />

toda cultura viva muda (o latim tornou-se língua morta a partir do momento em que não pôde mais<br />

evoluir). O indivíduo não vive uma tragédia ao perder a cultura de origem quando adquire outra;<br />

constitui nossa humanidade o fato de ter uma língua, não o de ter determinada língua (1999: 24-25).<br />

De todas as formas, Todorov sopesa que a assimilação absoluta – o<br />

desenraizamento – não se pode alcançar e que, devido à duração limitada da vida, não se<br />

podem reunir, em uma vivência intensa, mais de duas ou três experiências identitárias<br />

nacionais. Por isso, para definir a sua trajetória pessoal ele preferiu o termo<br />

transculturação, por este estar estreitamente vinculado ao de biculturalismo. O termo<br />

transculturação explicitava que a aquisição de um novo código identitário acontecia sem se<br />

apagar o anterior código, e permitia a Todorov entender por que ele era um estrangeiro na<br />

sua casa (Sofia) que se sentia em casa quando estava fora dela (Paris). O autor acredita que<br />

a transculturação é a fase final da experiência bicultural, só atingível após um período de<br />

aculturação, a primeira experiência para a integração. A aculturação consiste para Todorov<br />

no desligamento da cultura de origem, no uso da língua do país adotivo e no exercício<br />

profissional nesse país. Paralelamente, tal processo deve ir acompanhado do<br />

reconhecimento dos outros – os aborígines –, já que o estrangeiro precisa que o olhar alheio<br />

lhe confirme a adequação dos seus passos na adaptação à nova sociedade.<br />

A competência profissional do sujeito estrangeiro é fundamental para que a<br />

sociedade do país de destino o acolha e lhe reconheça o mérito, criando-se, assim, as<br />

condições para que o estrangeiro se predisponha a se aculturar e para que assuma que a<br />

experiência do seu desenraizamento resulta amainada mediante a adoção, por parte dele, de<br />

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