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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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João, cobertos de flores e velas acessas” nos quais deixou uma moeda, “tal como fazia o<br />

povo em Orense no meu altarzinho da Praça do Corregedor”, que ouviu “o estrondo de uma<br />

descomunal batalha pirotécnica” semelhante à das festas populares de Mundil (Cartelhe) e<br />

que sentiu tentações de subir ao pau de sebo chamado “cucana” na sua terra (Las Casas,<br />

1939: 22-23). O autor encerra a narração da sua vivência da Noite de São João em Manaus<br />

referindo-se a um baile em que permaneceu até que se fez de manhã, o Baile do Clube<br />

Nacional “onde se reunia a sociedade elegante” onde travou conhecimento com muitas e<br />

belas moças e bebeu guaraná, do qual relata uma lenda indígena sobre a sua origem.<br />

Nas seguintes páginas que dedica ao relato da sua estadia em Manaus, Las Casas<br />

centra-se na descrição da “vida intelectual” da cidade, que ele qualifica de “riquíssima” e<br />

sobre cujos escritores lavra linha de admiração. Ao visitar o Instituto Histórico e<br />

Geográfico da cidade destaca que os moinhos de pedra indígena custodiados na museu<br />

etnográfico são “semelhantes àqueles que temos encontrado nas nossas citanias ibéricas”<br />

(Las Casas, 1939: 25) e logo de visitar a Academia Amazonense de Letras julga que na<br />

cidade se lê muito e se lê bem 532 . Com um desses escritores – Nunes Pereira –, logo de<br />

deixar a casa de uma rua de meretrício onde passaram a noite, visita o pitoresco mercado,<br />

cujas frutas experimentos e cujos peixes nomeia. Com um outro guia, o prefeito Antônio<br />

Maia, vai até o ave-aquário municipal e visita os principais prédios – a matriz, escolas,<br />

igrejas, o teatro –, sobre um dos quais, a ermida do Pobre Diabo, faz o seguinte comentário:<br />

“construída por um simples emigrante que, não por tornar-se milionário mais tarde, perdeu<br />

a sua condição de pobre diabo...” (Las Casas, 1939: 30). Um dos almoços foram no<br />

Consulado do Peru e com o interventor do Estado – Álvaro Maia – faz um passeio de canoa<br />

até o lago Amanium, durante o qual descreve com entusiasmo a flora e a fauna amazônicas,<br />

detendo-se especialmente nas vitórias-régias.<br />

532 Eis a avaliação que faz Las Casas (1939: 26) dos hábitos leitores em Manaus: “Em Manaus lê-se muito e<br />

sabe-se ler. Publicam-se quatro diários que, somadas as edições, equivalem a 7.000 exemplares por dia, e três<br />

ou quatro pequenas revistas. Visitei bibliotecas particulares com mais de 4.000 volumes. Há muitas livrarias e<br />

bem nutridas, e o comércio literário é muito intenso. Um livreiro, muito experimentado e inteligente, disse-me<br />

uma tarde: cá os livros apodrecem nas prateleiras sem alma piedosa que os compre; no entanto os bons<br />

vendem-se em grandes quantidades. Aventurei algumas perguntas: – Qual é o autor brasileiro mais<br />

procurado? – Machado de Assis. – E quais os autores estrangeiros? Thomas Mann, Chesterton e Stefan<br />

Zweig. – Que livro vende mais de Zweig? – Fouché. Confesso que fiquei assombrado, e muito mais me<br />

surpreenderia se não soubesse que esta é a terra de Heliodoro Balbi, de Th. Vaz e de Raimundo Monteiro,<br />

poetas de primeira magnitude, e que aqui se educaram e renovaram o grande lírico Aníbal Teófilo e o douto<br />

polígrafo Araújo Filho”.<br />

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