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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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era natural. Implicitamente, devido à sua apologia da transculturação como o procedimento<br />

que universalmente teria que ser canonizado, e oficializado, para a harmonização social das<br />

diferenças, o autor acredita que a presença de bons estrangeiros – ele, por exemplo – e,<br />

logo, de diversidade, é uma contribuição enriquecedora e equilibrante para o povo que sabe<br />

acolher. Todorov, no entanto, argüiu que aquele estrangeiro residente que, pelo motivo que<br />

seja, não queira se inserir no processo de transculturação, poderá se auto-marginalizar, mas<br />

não terá direito a reclamar nem o respeito a ele da sociedade que o admitira, nem a proteção<br />

da sua inadaptação por parte do Estado de direito.<br />

Kristeva não propõe soluções. No seu ensaio, ela não enunciou que nas suas<br />

colocações incidia a auto-análise. Ela assegura que o deslocamento produz sempre<br />

marcações traumáticas. O sujeito, quando se converte em estrangeiro, perde segurança para<br />

se entender a si e faz-se instável, porque, no meio dos campos sociais do país de destino, os<br />

princípios julgados naturais diluem-se, e é mal compreendido pelos nacionais, porque eles<br />

não o enxergam como sujeito em si, senão como sujeito-estrangeiro, isto é um sujeito<br />

marcado pelo desarraigo, caprichoso ou forçado. O mal-estar da condição de ser estrangeiro<br />

inerente a todas as representações sobre esses sujeitos marcados analisadas por Kristeva<br />

conduz a acreditar que não há mais vias que a resignação para o existir do outro.<br />

Sayad, frente a Todorov e Kristeva, enfocou o seu exame em um tipo de<br />

estrangeiro: o estrangeiro que se desloca para se encarregar dos trabalhos que os nacionais<br />

oferecem aos sujeitos forâneos pobres, ou seja, o imigrante. O sociólogo argelino frisou que<br />

a condição de imigrante compõe-se de duplicidades que causam confusão e agonia ao<br />

sujeito que a adquire. Ele, sem, a priori, deixar de ser ele, ao se expatriar, converte-se em<br />

um trabalhador não-nacional presente e, simultaneamente, em um nacional ausente, sendo,<br />

através do prisma dessa dupla condição dele, apreciado pelos sujeitos que legitimamente se<br />

encontram no seu espaço natural. Essa dupla avaliação realizada pelos sujeitos<br />

positivamente nacionais faz com que ele se reavalie como ser a partir das representações<br />

que os nacionais fazem dele, o qual, unido â sua própria consciência de se saber o outro,<br />

mergulha o imigrante no desnorteio a respeito da sua identidade. Sayad, ao igual que<br />

Kristeva, não propõe soluções. O imigrante, inevitavelmente, está marcado pelo fato de a<br />

sua presença estar condicionada pela realização correta das funções que lhe sejam<br />

designadas. No caso dele, no entanto, o trabalho não é um direito, é só um dever, e, quando<br />

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