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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Confederação Operária Brasileira (C.O.B.), no Rio de Janeiro, entre 1908 e 1915<br />

(recopilado em edição fac-símile, A Voz do Trabalhador, 1985) 231 .<br />

A participação dos espanhóis nas articulações sindicais refletiu-se em alguns<br />

romances que abordaram, de uma perspectiva ficcional realista, o modo de vida operário no<br />

Estado de São Paulo e a circunstância sociopolítica que o rodeou 232 . Por um lado, os<br />

romances do paulista Eduardo Maffei A greve (Maffei, 1978) e A morte do sapateiro<br />

(Maffei, 1982) e, por outro, o intitulado Anarquistas, graças a Deus, da santista Zélia<br />

Gattai (1985), transladam à ficção esse modo de vida e essa circunstância, contendo<br />

personagens apresentados como imigrantes espanhóis. Mas é no protagonista construído no<br />

romance Os andaluzes, de Susana M. Dias Beck (1980), onde melhor se observa a<br />

identificação do imigrante espanhol com o estereótipo de anarquista. Em Os andaluzes, o<br />

protagonista, um sapateiro andaluz, resignado e apolítico, chamado Don Antônio, não é<br />

231 A bibliografia sobre a participação dos imigrantes no movimento operário na República Velha é<br />

abundante. Há informações sobre a presença estrangeira na constituição do movimento operário nas seguintes<br />

obras: Crônica dos primeiros anarquistas no Rio de Janeiro (1888-1900) (Lopes, 2004), O movimento<br />

operário na Primeira República (Batalha, 2000) e Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não<br />

foi (Carvalho, 1987). Dados sobre o I Congresso Operário Brasileiro e sobre os posicionamentos dos<br />

trabalhadores estrangeiros nos congressos operários celebrados durante a República Velha estão contidos nos<br />

livros Alvorada operária – os congressos operários no Brasil (Rodrigues, 1979), Anarquistas, imigrantes e o<br />

movimento operário brasileiro, 1890-1920 (Maram, 1979), A insurreição anarquista no Rio de Janeiro<br />

(Addor, 1986), Libertários no Brasil: memória, luta, cultura (Prado, 1986), Os libertários (Rodrigues, 1993),<br />

A semana trágica – a greve geral anarquista de 1917 (Lopreato, 1997), Atuação libertária no Brasil (Neto,<br />

2001) e Anarquismo e sindicalismo revolucionário – trabalhadores e militantes em São Paulo na Primeira<br />

República (Toledo, 2004). Edgar Rodrigues elaborou biografias sobre anarquistas na série de livros Os<br />

companheiros (Rodrigues, 1994, 1995b, 1997a, 1997b, 1997c). Rogério H. Z. Nascimento publicou a sua<br />

dissertação de mestrado sobre o pensamento social do anarquista, nascido nas Astúrias, Florentino de<br />

Carvalho (Nascimento, 2000). No livro Três depoimentos libertários (2000) foram recolhidas as entrevistas a<br />

Diego Giménez Moreno – anarquista espanhol – e a Jaime Cubero – anarquista de ascendência espanhola –.<br />

232 Em 1918, a sociedade paulista viu-se afetada por um andaço de gripe que foi adjetivada de “espanhola”.<br />

São dezenas os estudos dedicados aos efeitos dessa gripe no Brasil, sobretudo nos estados do Rio de Janeiro e<br />

São Paulo. Consultamos o de Cláudio Bertolli Filho intitulado A gripe espanhola em São Paulo, 1918:<br />

epidemia e sociedade (Bertolli Filho, 2003). O autor não considera que a adjetivação “espanhola” afetasse à<br />

visão que a sociedade paulista tinha dos imigrantes espanhóis, pois essa adjetivação não fora escolhida por<br />

nenhum cientista ou instituição brasileira, senão que viera dada pelas autoridades sanitárias britânicas para<br />

desviar a atenção sobre a origem de um andaço que surgira nas condições de vida insalubres de guerra de<br />

trincheiras da frente francesa durante a I Guerra Mundial. O autor (Bertolli Filho, 2003: 76) acredita que,<br />

falsamente, se difundira que os surtos começaram na Espanha por ser ela um país neutral durante o conflito<br />

sobre o qual os serviços secretos britânicos decidiram lançar uma campanha de descrédito perante a suspeita<br />

da força que poderiam estar reunindo os setores germanófilos. As autoridades sanitárias paulistanas<br />

desenvolveram uma intensa campanha para controlar o que, em 1919, se convertera em uma grave epidemia<br />

expandida por toda a cidade. Entre as medidas impostas, esteve a de se evitar o desgaste físico em atividades<br />

inúteis e incompatíveis com o momento de crise, como o esporte, a dança e as caminhadas desnecessárias. Em<br />

outubro desse ano, o Sport Club Corinthians, equipe cuja torcida era então composta predominantemente por<br />

negros e espanhóis, foi acusado de não respeitar as disposições oficiais e permitir que os seus atletas<br />

treinassem, o que exigiu que os representantes de clube tivessem que justificar a falsidade da denúncia<br />

(Bertolli Filho, 2003: 264-66).<br />

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