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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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A narração de Soares d’Azevedo, apesar da veracidade e da objetividade que o autor<br />

assevera ter pretendido manter, manca de verossimilhança desde o início pois, embora seja<br />

verdadeiro que se organizaram em Madri atos em favor de Prestes após a sua detenção<br />

como conseqüência do fracasso do levante da Praia Vermelha em 1935, não parece crível<br />

que, ao estourar a guerra na Espanha, uma das primeiras consignas das milicianas fosse<br />

“libertad para Prestes!”, nem que um miliciano, no meio do desconcerto, ao verificar a<br />

documentação de Soares, tivesse paciência para lhe explicar com detalhe quem era Prestes,<br />

sem nem tão sequer suspeitar que Soares era brasileiro.<br />

O jornalista diz que passou a sua primeira noite madrilena – do domingo 19 de julho<br />

– em um hotel. Teve ainda tempo de ir a missa na igreja del Carmen na Calle Preciados. É<br />

então quando sabe que “As tropas do general Franco deram o primeiro sinal, esse general<br />

Franco, quarenta e dois anos, pequenino, miudinho, nervoso, a maior cabeça de guerreiro<br />

das Espanhas” (Soares d’Azevedo, 1936: 18). Antes do agravamento da situação em Madri,<br />

Soares pôde se entrevistar rapidamente com o galego José María Taboada Lago, o seu<br />

enlace na Ação Católica Espanhola, quem era o seu principal contato na capital. Não o<br />

encontra na sede da Ação Católica na rua Conde de Aranda, 1º; localiza-o nas Ediciones<br />

Fax, na praça de San Francisco, a ponto de ir na procura de asilo em casa amiga. Dessa<br />

conversa, Soares (1936: 39) faz o seguinte apontamento: “O que ele me diz, essa insinuante<br />

figura do laicato católico espanhol, é de cortar o coração. Uma verdadeira horda de<br />

selvagens está saqueando Madrid e praticando nela os mais horríveis latrocínios que a<br />

imaginação possa conceber”. Do Dr. Taboada – “uma das mais belas cabeças de pensador e<br />

de administrador” –, Soares saberá, já de volta no Rio, que fora fuzilado “em plena praça<br />

pública” (Soares d’Azevedo, 1936: 184).<br />

Afora do corpo diplomático, Soares considera-se o único brasileiro em Madri e<br />

sente-se na obrigação de, como jornalista do Correio da Manhã, se informar para poder<br />

remeter ao Rio de Janeiro notícias sobre o que acontece. Então, ele dedica-se a perguntar e<br />

a observar para poder compor as suas crônicas. Explica que é a FAI, a Frente Popular, a<br />

Phalange, acusa às direitas de não terem sabido governar em 1933, critica a aristocracia<br />

anódina por ter abandonado as suas responsabilidades de direção, aponta que a displicência<br />

e a inércia dos católicos impossibilitou a defesa da fé, abrindo o caminho para o avanço do<br />

ânimo anticlerical, e assinala que o desprestígio do exército provocou a ruptura entre a<br />

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