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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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nova capital, o relatório composto por Pedro Ludovico Teixeira como interventor federal,<br />

de 1930 a 1933, reveste-se de um caráter médico-científico e, mesmo, técnico-econômico.<br />

À cidade de Goiás nega-se definitivamente qualquer condição de possibilidade para<br />

manter-se como centro do poder político e simbólico. Como espaço, estava “situada em<br />

meio de uma bacia, [...] embaraçando-lhe a regular ventilação, estreitando-lhe, demais, o<br />

horizonte visual”; pelo clima, era “castigada por excessiva temperatura [...], não corrigida<br />

pela latitude ou por causas locais”; a atmosfera geral formava uma “poderosa influência do<br />

meio na mentalidade dos homens, estreitando os horizontes e embargando os impulsos de<br />

engrandecimento”; entre seus habitantes, os bobos “contam-se às dezenas [...], extenso<br />

grupo patológico dos débeis mentais, desde imbecis natos até os cretinizados pela miséria<br />

física ou por causas degenerescentes, congênitas ou adquiridas”; a água potável era<br />

“transportada na cabeça, em potes, e fornecida pelas únicas e pobres fontes existentes”; as<br />

habitações “aberram de todos os princípios de higiene e de todas as utilidades de conforto.<br />

Noventa e oito por cento da população da capital dorme em alcovas bafientas, que nunca<br />

recebem sol e em que jamais entra luz ou ar diretamente do exterior”; economicamente<br />

deixaria de fazer sentido a “remodelação impossível de uma cidade velha e inafeiçoável às<br />

conquistas e às utilidades da vida moderna” 468 . Para sediar a capital de Goiás, iniciara-se a<br />

construção de uma nova cidade – Goiânia – à qual, aos 23 de março de 1937, fora<br />

exemplo da falta de disposição para o desenvolvimento que se observava em todo o território ao longo do séc.<br />

XIX. Dentre as impressões deixadas por esses viajantes estrangeiros, destaca-se a do naturalista francês que<br />

viajara entre 1816 e 1822 por várias províncias do Brasil e que, 26 anos após ter regressado à França,<br />

publicou o relato das suas travessias pelos sertões de Goiás em 1819. Nele expunha as impressões que<br />

recebera durante a sua estadia na por ele denominada ‘infortunada região’ goiana, um território no qual<br />

percebera as desastrosas conseqüências de uma administração ‘quase sempre imprevidente e com freqüência<br />

espoliadora’ (Saint-Hilaire, 1975: 13). Em vários episódios da obra Viagem à província de Goiás, Saint-<br />

Hilaire narra as suas experiências pela capital goiana. Nas observações vertidas percebe-se que esse<br />

naturalista francês visara abarcar os traços definidores de todos os campos sociais da cidade de Goiás. Assim,<br />

a respeito da arquitetura vilaboense, Saint-Hilaire (1975: 51) sancionara: ‘Ali tudo é pequeno, tudo é<br />

mesquinho, sem beleza e até mesmo, segundo diziam, sem solidez’. Os juízos de valor de Saint-Hilaire<br />

enfatizam, sobretudo, o comportamento anódino a que fora conduzida a população da cidade de Goiás por<br />

efeito do atraso instituído pelo determinismo inerente às características da localização dessa capital: ‘A<br />

cidade, construída numa baixada, onde o ar não circula como nas montanhas e nas planícies; onde a água<br />

parece pouco salubre e o calor é quase sempre sufocante durante a seca; onde, enfim, a umidade deve ser<br />

muito grande na estação das chuvas, essa cidade, repito, não pode ser propícia aos homens da nossa raça. Essa<br />

é uma razão por que os habitantes de Vila Boa estão longe de apresentar uma aparência de saúde, vigor e<br />

energia’ (Saint-Hilaire, 1975: 51)” (Costa, Quintela, 2005: 20-21).<br />

468 As citações do Relatório de 1930-1933, composto por Pedro Ludovico, foram retiradas do artigo A<br />

modernidade assustadora: o pesadelo goiano de Lévi-Strauss (Costa; Quintela, 2005).<br />

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