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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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galego assentado no Rio de Janeiro. A partir do momento da sua fixação definitiva no país,<br />

o artista nascido em Compostela preocupou-se por definir um repertório de motivos<br />

autóctones para a pintura brasileira, dentre eles a temática caipira – regionalista –. De fato,<br />

Brocos é considerado, desde o Império, um artista nacional. A redenção de Cam está<br />

exposto no Museu de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Trata-se de um quadro de inusuais<br />

dimensões (200 x 166 cm). José Roberto Teixeira Leite (1996), um dos historiadores<br />

brasileiros dedicados ao estudo das artes plásticas produzidas por espanhóis no Brasil,<br />

descreve a obra como se segue:<br />

representa, à porta de um casebre, uma ex-escrava que ergue as mãos aos céus em agradecimento<br />

pela clara epiderme do netinho, sustentado ao colo pela mãe, uma jovem mulata que tem ao lado o<br />

marido, lusitano típico. A Redenção de Cam consiste por conseguinte no branqueamento da raça<br />

através de gradativos cruzamentos, e não sabemos até que ponto influíram para a sua concepção os<br />

novos conceitos de eugenia, então postos em circulação entre nós (Leite, 1996: 22).<br />

Brocos, um artista galego naturalizado brasileiro, não só se integrara no campo<br />

cultural da, então, capital do Brasil, havendo retratado cenas pitorescas brasileiras; ele, em<br />

A redenção de Cam, demonstrou haver entendido o biopoder 37 dado ao imigrante europeu e<br />

a significação da mestiçagem na configuração nacional 38 . No Rio, esse artista, quem esteve<br />

vinculado ao Centro Galego, adaptou-se plenamente à sociedade brasileira.<br />

periódicos, converteu-se em ensaísta de belas artes – escrevendo em português (A questão do ensino de Bellas<br />

Artes, 1915, e Retórica dos pintores, 1933) – e de assuntos políticos – escrevendo em espanhol (Viaje a<br />

Marte, 1930) –, e ocupou os cargos de catedrático de Desenho Figurado da Escola Nacional de Belas Artes e<br />

de membro do Conselho Nacional de Belas Artes, entidades cariocas de abrangência federal. A sua obra<br />

encontra-se nas principais pinacotecas do Brasil, no Centro Galego de Havana, na Deputação de A Corunha,<br />

no Paço de Marinhám e na Catedral de Santiago de Compostela. O produto de Brocos que se exibe na Havana<br />

é o óleo La defensa de Lugo. Trata-se de uma composição histórica consoante com o gosto regionalista do<br />

monumental Centro Galego dessa cidade. Em 1900, Brocos naturalizou-se brasileiro, nunca mais se<br />

ausentando do país. No Rio de Janeiro, Brocos colaborou com o Centro Galego.<br />

37 O conceito divulgado por Foucault (1990: 87-104) através do termo biopoder descreve uma tecnologia do<br />

poder regulador cuja função consiste em controlar racionalmente a condição da espécie e a sua reprodução<br />

com o objetivo de criar uma população mais saudável e distinta. A perversidade concentrada no reverso do<br />

discurso, e das táticas políticas, mediante os quais se busque valorizar e aprimorar a vida natural do homem,<br />

apresenta-se na apologia do direito soberano a eliminar aquilo que seja considerado nocivo ou prejudicial para<br />

o bem-estar e a sobrevivência do corpo social.<br />

38 A associação, com o homem português – o galego –, da função eugênica mediante a reprodução com as<br />

mulatas ou as negras brasileiras conformara-se em uma recorrência dos campos da cultura brasileira atuantes<br />

no Rio de Janeiro desde a independência. Assim, em O Escravocrata, drama em 03 atos composto em 1882<br />

por Artur Azevedo, em colaboração com Urbano Duarte, publicado dois anos mais tarde, pode ser observada<br />

essa característica através do diálogo que mantém a personagem Josefá com seu irmão Salazar, negociante de<br />

escravos: “Josefa – Ninguém nos ouve. Era mulato e escravo; mas a aliança com galegos purificou a raça, de<br />

sorte que tanto você como eu somos perfeitamente brancos... Temos cabelos lisos e corridos, beiços finos e<br />

testa larga” (Azevedo, 1884: 21).<br />

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