26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Es un niño. Piensas como un niño. Como un neno – repetiu en galego. O tiempo es de Mussolini e<br />

Hitler, hermano. Ellos mudan todo en Italia y Alemania. Son hoxe países ricos, riquíssimos. O<br />

fascismo es lo cierto.<br />

– O pensamento es como o sol y la lluvia. Mándanos Dios y as circunstâncias. No digo que la<br />

Republica no es buena. Es buena, sí, para los pobos civilizados. Nosotros, os españoles, necesitamos<br />

de mano firme. De “chibata”, como se dice en Bahia (Araújo, 1987: 26).<br />

Concluída a discussão, e rompida a amizade entre esses dois membros do<br />

“Cenáculo” baseada na lealdade republicana, Manolo perguntou a D. Ramón por que ele se<br />

expressava sempre em espanhol, ao qual D. Ramón respondeu que o idioleto falado por<br />

Manolo não se podia denominar galego:<br />

Manolo ergueu de novo a cabeça e fez uma pergunta surpreendente:<br />

– Ramón, hace mucho queria fazer-te uma pergunta: por que nunca falas en galego?<br />

– Tampoco tú lo haces, Manolo – disse, levantando-se. Bueno, debo partir. Lengua, aire y luz! Tú no<br />

los tienes aqui (Araújo, 1987: 27).<br />

Dentre os personagens aos que se refere o autor, não há nenhum que se expresse em<br />

galego. Aqueles que, por um talante qualificado como digno, lhe são simpáticos – D.<br />

Ramón, Consuelo –, ou mesmo aqueles que, embora ele os aborreça, são instruídos, como<br />

da Cal, usam o o espanhol ou português, dependendo de quem seja o seu interlocutor. No<br />

caso de D. Ramón, o relojoeiro só recorre ao português quando percebe que o seu ouvinte<br />

pode não o entender. Isso aconteceu quando, sendo o autor uma criança, D. Ramón<br />

informara-os, a ele e a seu pai, da derrota da II República:<br />

– A partir de hoy – insistia don Ramón – España es una tierra muerta, un paraíso calaverario. Ellos<br />

escriben en los muros y puestas: “Viva la muerte!” He visto una fotografía en un diario. Esto es el<br />

fascismo, Pérez.<br />

E dirigindo-se a mim:<br />

– Tú no debes haber comprendido lo que he dicho. Digo em português: a Espanha é uma terra de<br />

mortos, de caveiras ao sol. Um dia te lembrarás das minhas palavras (Araújo, 1987: 22).<br />

Mas, na apresentação da maioria das falas dos outros imigrantes galegos, o autor<br />

cria um socioleto que indica que eles não são nem capazes nem conscientes de se manterem<br />

em um só idioma, misturando os três.<br />

O desinteresse da colônia de imigrantes galegos pela cultura livresca evidencia-se<br />

ao ignorar a livraria que D. Ramón abre em uma sala contígua à sua relojoaria, localizada<br />

na rua do Bispo, no térreo de um prédio propriedade de um imigrante italiano anarquista,<br />

alfaiate e cozinheiro, em que também funcionava um prostíbulo – a pensão de “Mãe do<br />

311

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!