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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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desdenhosa que se fizera do português 134 . Ainda neste século, a socióloga L. Lippi Oliveira<br />

(2001), em um bosquejo sobre a imigração, ao se referir ao “sonho de enriquecimento” dos<br />

galegos de Salvador 135 , destaca a “língua enrolada” dos galegos, isto é, uma fala que, para<br />

os baianos, era mais difícil de compreender que o português de Portugal. Diz ela:<br />

Eles provinham em sua maioria de uma região da Espanha – a Galiza. Região pobre, colonizada,<br />

sufocada pelos governos de Madri, a Galiza não apresentava perspectiva para os seus habitantes. [...]<br />

Têm língua enrolada, pior que os portugueses; são exploradores do povo da terra; sovinas, não<br />

gostam de gastar dinheiro nem para se vestir; vivem entre os pobres e como os pobres, mas destes se<br />

afastam pelo preconceito; não querem se identificar com os negros já que estes são cidadãos de<br />

segunda classe. Sofrem pressão muito grande. Galego passa a ser sinônimo de ignorante, bruto e sem<br />

higiene! (Oliveira, 2001: 46, 49).<br />

Desse discurso desprende-se que a fala dos galegos se corresponde com o uso<br />

lingüístico do português esperado dos “não-nacionais”. Na categoria “não-nacionais” estão<br />

incluídos os portugueses, que não se expressam em português da maneira que se espera o<br />

façam os “nacionais”.<br />

O imigrante galego foi visto como um sujeito – aldeão pobre – que espelhava o seu<br />

país. Assim, associou-se a identidade galega à rusticidade e ao atraso. Ao se referir ao<br />

caráter dos imigrantes galegos no Estado de São Paulo do período 1946-1964, a<br />

historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro fez a seguinte reflexão a respeito dos traços<br />

distintivos da Galiza, o país de emigração:<br />

134 O retrato mais delirante, com explícita hipérbole degradante, da Galiza e dos galegos foi inserido pelo<br />

escritor e diplomata Aluísio Azevedo nas suas declarações epistolares, do 23 de dezembro de 1896, dirigidas<br />

a Domingos Perdigão. Escritas durante a sua estadia em Vigo como cônsul da República brasileira, nelas<br />

descreve-se o indivíduo galego sem interferências explícitas do preconceito anti-lusitano e sem que nelas<br />

constem imagens estendíveis a todo o povo espanhol. Comentou Azevedo (1961: 193-95): “Recebi a tua bela<br />

carta que me veio surpreender, muito agradavelmente, nesta terra por onde Deus nunca andou e para onde o<br />

meu destino, que se apraz em contrariar-me, me atirou ultimamente, obrigando-me a suportar de perto este<br />

animal não classificado, que se chama – Galego, e que é feito de uma estranha composição combinada de<br />

velhacaria, estupidez e porcaria – combinadas estas três substâncias em doses iguais e temperadas com<br />

raspagens de chifre do diabo. [...] Tu, que és químico e conheces todos os segredos das recortas, não me dirás<br />

qual é o princípio científico que determina a formação satânica do preparado de que te falei primeiro, a<br />

respeito do animal ainda não classificado? Se o conheces, manda-me dizer, para que eu me defenda<br />

profilaticamente contra a intoxicação que aqui me ameaça. [...] Adeus, meu caro Domingos; se vieres por cá<br />

dar um passeio, fica já prevenido de que há aqui, neste canto insuportável da Espanha, uma casa que é tua<br />

[...].”<br />

135 Lippi Oliveira reconstrói sumariamente as estratégias de adaptação e de agregação da colônia galega frente<br />

aos usos e costumes da sociedade baiana. Para a elaboração da sua obra, a autora indica ter se baseado nas<br />

quatro primeiras grandes análises da imigração galega do Estado da Bahia (Albán, 1983; Bacelar, 1983 e<br />

1994; Braga, 1995).<br />

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