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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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candomblé senão que o aceita na qualidade de convidado distinto. A sua primeira<br />

experiência na liturgia dessa religião animista será matéria de um pormenorizado relato.<br />

Além dessa experiência, ele também narra a sua participação de um outro candomblé, mais<br />

“fastuoso”, em que se inaugurava um novo tempo desse credo 444 O autor encerra as suas<br />

narrações dos cultos africanos com uma reflexão que ele adscreve na psicanálise:<br />

Mi apreciación es la apreciación de un turista, libre de prejuicios sectarios.<br />

Si del arte se pasa a la ciencia, afirmo también que en las fiestas negras hay mucho que aprender. Las<br />

disciplinas antropológicas tienen ancho campo de experimentación en los “terreiros”.<br />

Brindo un precioso tema a los especialistas: la posesión o bajada de santo (Casais, 1940: 88-89).<br />

Da capital da Bahia, para continuar satisfazendo as suas “ambiciones artísticas”,<br />

passará à capital de Minas Gerais. Essa travessia ocupa a Terceira Parte do livro, intitulada<br />

De Bahía a Minas por el río San Francisco. Dois trechos dessa viagem foram de trem (de<br />

Salvador a Juazeiro e de Pirapora a Belo Horizonte) e um trecho intermediário foi de navio,<br />

remontando o rio São Francisco (entre Juazeiro e Pirapora, perfazendo 1.371 kms de<br />

périplo fluvial). Na sua narrativa de viagem, o autor sublinha constantemente que a<br />

de Dorival Caymmi. Camus, por outra parte, quem não se considera um turista e que sente que a sua viagem é<br />

um trânsito pelo exílio, menciona encontros com mais de uma dezena de franceses residentes no Rio e,<br />

inclusive, com espanhóis. Assim, nas suas anotações sobre as atividades do 20 de julho [1949], destaca que a<br />

uma conferência sua no Rio assistiram o embaixador da Espanha e Ninu “um refugiado espanhol que conheci<br />

em Paris. “ [...] Não o deixo mais, feliz por ter esse amigo na sala, e pensando que é para homens como ele<br />

que vou falar” (Camus, 1985: 100). Camus chega a Salvador no dia 23 de julho, mas só permanece nessa<br />

cidade dois dias. De todas as formas, nesse período percorre ruas e entra em locais onde também estivera<br />

Casais. Assim, visita também a igreja do Cristo do Bonfim. Aprecia a igreja, mas não se admira: “É<br />

sufocante. Mas esse barroco harmonioso repete-se muito. Finalmente, é a única coisa a ser vista neste país, e<br />

isso se vê depressa. Resta a vida verdadeira. Mas sobre esta terra imensa, que tem a tristeza dos grandes<br />

espaços, a vida é a nível do chão e seriam necessários muitos anos para a ela integrar-se. Será que sinto<br />

vontade de passar alguns anos no Brasil? No” (Camus, 1985: 107). No último dia que ele passa em Salvador,<br />

o 24 de julho, assiste a um outro candomblé – “nova cerimônia desta curiosa religião afro-brasileira” –. Mas,<br />

desta vez, Camus impressiona-se com a beleza e danças de uma sacerdotisa – uma “filha-de-santo” –: “Uma<br />

delas, alta e esguia, me encanta. Está com um chapéu de caçadora azul, com a aba levantada e plumas de<br />

mosqueteiro, de vestido verde, e traz na mão um arco verde e amarelo, munido de sua flecha, em cuja ponta<br />

está espetado um pássaro multicolor. O belo rosto adormecido reflete uma melancolia impassível e inocente.<br />

Essa Diana negra é de uma graça infinita. E quando ela dança, essa graça extraordinária não se desmente.<br />

Sempre adormecida, vacila nas pausas da música. Só o ritmo empresta-lhe uma espécie de tutor invisível, em<br />

torno do qual ela enrola seus arabescos, emitindo, de vez em quando, um grito de pássaro, estranho e<br />

lancinante, porém melodioso. O resto não vale grande coisa. Os ritos degradados exprimem-se em danças<br />

medíocres” (Camus, 1985: 109-10).<br />

444 Casais (1940: 84) reproduz o bilhete que recebera convidando-o a participara no candomblé: “Días más<br />

tarde me cupo la suerte de asistir a un fastuoso candomblé en San Gonzalo del Retiro. Doña Eugenia Anna<br />

dos Santos, perteneciente a una tradicional familia africana, me hizo llegar este convite: ‘Exmo. Snr. Dr. José<br />

Casais, O Centro Cruz Santa, do Opô Afonjá, tem o prazer de convidar a V. Ex. e Exma. Família, para<br />

assistirem, às 16 horas do dia 10 de outubro, a solenidade do início da construção do seu templo, bem assim<br />

as festividades de Orixá-Lá, as quais se prolongarão até 25 de dezembro do corrente ano. Confiado no<br />

respeito e interesse que dispensais ao nosso culto, aguardamos com muita satisfação a vossa presença. Bahia,<br />

Setembro de 1937. A DIRETORIA’”.<br />

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