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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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justificativa que motivou a sua presença 67 . Nos motivos para a ocupação de uma vaga de<br />

qualquer emprego estriba, portanto, a diferença entre o asilado e o imigrante. Se o primeiro<br />

não arruma trabalho, o seu estatuto não muda, mas, caso o segundo fique descolocado ou<br />

caso o seu desempenho não seja o esperado, surgirão os questionamentos acerca do sentido<br />

da sua presença junto a uma nação que não é a sua.<br />

Ao asilado e ao estrangeiro não-imigrante cabe-lhes encontrar fórmulas para se<br />

relacionarem com os patrícios imigrantes com os quais compartilham o espaço da<br />

expatriação. Para o asilado e para o estrangeiro não-imigrante, a estratégia de convivência<br />

mais conveniente consiste em conseguir que o seu capital cultural e simbólico seja<br />

reconhecido, protegido e apoiado economicamente pelos conterrâneos imigrantes que<br />

tiveram fortuna, estabelecendo-se, assim, um relacionamento em que o mecenato que<br />

recebem o asilado e/ ou o estrangeiro não-imigrante pode redundar, perante alguns dos<br />

67 No início da década de 1980, o literato argentino Juan Gelman refletiu sobre a condição do asilado – a que<br />

ele tivera que assumir – nos poemas de Bajo la lluvia ajena (notas al pie de uma derrota) [1983], por nós lidos<br />

no livro Interrupciones II (Gelman, 1986). Gelman (1986: 13) definiu o exílio como “una vaca que puede dar<br />

leche envenenada” e os exilados como “inquilinos de la soledad” (Gelman, 1986: 44). Desde Roma, redigiu a<br />

seguinte consideração sobre a colônia de desterrados argentinos, que interpretamos como uma exposição dos<br />

motivos que, caso eles assim o decidam, permitem que os asilados evitem a aculturação na circunstância do<br />

país que os acolheu e que, desde a sua solidão, se limitem a ignorar, e inclusive, desprezar o que os rodeia sob<br />

o amparo da saudade e da fidelidade à pátria abandonada: “En la colonia exiliar Argentina predomina la<br />

apatía política y de otro tipo. Se trabaja o no, se estudia o no, se aprende el idioma del país en que se está o<br />

no, se reconstruye la vida o no. Las mujeres pasan como ríos, se las quiere o no, se las conserva o no. La<br />

necesidad de autodestruirse y la necesidad de sobrevivir pelean entre sí como dos hermanos vueltos locos.<br />

Guardamos la ropita en el ropero, pero no hemos deshecho las valijas del alma. Pasa el tiempo y la manera de<br />

negar el destierro es negar el país donde se está, negar a su gente, su idioma, rechazarlos como testigos<br />

concretos de una mutilación: la tierra nuestra está lejana, qué saben estos gringos de sus voces, sus pájaros,<br />

sus duelos, sus tormentas”. Os exilados podem argüir, perante os nativos e perante os seus compatriotas nãoexilados,<br />

que, quando residiam na sua pátria, tinham tudo o que precisavam e que a causa de ter partido dela<br />

se deveu, só, às conseqüências da sua atitude dissidente, isto é, à perseguição política, às ameaças e ao<br />

banimento. Assim, eles podem asseverar que deixarão o exílio imediatamente após a desaparição do regime<br />

que os expulsou ou os fez fugir. E isso pode ser uma justificativa para a recusa de quaisquer compromissos ou<br />

relacionamentos com a sociedade do país em que residem temporariamente, a qual, supõe-se, não pode<br />

compreender as nuanças da circunstância dolorosa do desterro. Contudo, o desterro demanda do banido que,<br />

para que ele possa dar cabimento à excepcionalidade do seu estatuto, ele tenha que se referir constantemente à<br />

pátria e às razões que motivaram o seu exílio dela, isto é, ao seu passado. A esse respeito Gelman (1986: 21)<br />

expressa o seguinte: “de los deberes del exilio:// no olvidar el exilio/ combatir a la lengua que combate al<br />

exilio// no olvidar el exilio/ o sea la tierra// o sea la patria o lechita o pañuelo// donde vibrábamos/ donde<br />

niñábamos// no olvidar las razones del exilio// la dictadura militar/ los errores// que cometimos por vos/ contra<br />

vos// tierra de la que somos y nos eras// a nuestros pies/ como alba tendida/ y vos/ corazoncito que mirás//<br />

cualquier mañana como olvido// no te olvides de olvidar el olvido”. No escrito XII de Bajo la lluvia ajena,<br />

Gelman (1986: 28) contrasta a disposição de um exilado – ele mesmo – e um imigrante judeu ucraniano em<br />

Buenos Aires – seu pai –. Gelman destaca que, nas peculiaridades da carência que impulsiona à emigração ou<br />

ao exílio, e nas formas de relacionamento com a terra deixada, estão os traços diferenciais entre a condição<br />

que assume o asilado e o trabalhador estrangeiro: “Mi padre vino a América con una mano atrás y otra<br />

adelante, para tener bien alto el pantalón. Yo vine a Europa con una alma atrás y otra adelante, para tener bien<br />

alto el pantalón. Hay diferencias, sin embargo: él fue a quedarse, yo vine para volver”.<br />

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