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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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À tomada dessa decisão contribui a notícia que lhe chega a Alcebíades Peçanha, por parte<br />

de um “misterioso diplomata, informador secreto do embaixador”, da recuperação da<br />

cidade de Albacete pelo exército republicano, o qual abre uma via para alcançar o Levante<br />

e embarcar. Na embaixada também se recebera a notícia de que o governo da II República<br />

organizara um comboio de três trens até Valencia para os estrangeiros que desejassem<br />

repatriar-se; segundo Soares, do governo incentivava-se a perseguição dos estrangeiros por<br />

parte das milícias, por eles serem suspeitos de colaboração com o inimigo 356 . Parte, então,<br />

Soares, elogiando a inteireza do corpo diplomático e do pessoal da embaixada e assinalando<br />

que começavam a chegar, “hora a hora”, pedindo asilo, distintas famílias da “alta<br />

aristocracia madrilenha” e inclusive algum “alto funcionário das Relações Exteriores da<br />

Espanha”, embora os regulamentos brasileiros proibissem a concessão de asilo a cidadãos<br />

de um país em guerra civil. A conseqüência dessa chegada de demandantes de asilo foi a<br />

guarda da embaixada por milicianos, observados por Soares (1936: 87) com desprezo, pois<br />

a sua presença não impediu que o prédio fosse alvo de disparos: “A embaixada está agora<br />

guardada por dois milicianos, que se fizeram transportar em automóvel de luxo. Sei-os lá<br />

em baixo, na casinhola do porteiro, bebendo vinho, comendo chouriços, jogando damas”. A<br />

custódia de embaixadas e legações por parte de “soldados anarquistas” já fora percebida e<br />

comentada por Soares quando comparecera na legação da República do Salvador 357 :<br />

356 Segundo Soares d’Azevedo (1936: 80): “O rádio oficial, por sua vez, rompe em hostilidades contra os<br />

estrangeiros residentes em Madrid, abrindo assim as portas ao furor sanguinário das hordas que pelas ruas<br />

saqueiam, fuzilam e incendeiam casas, templos e monumentos”. A conseqüência do encorajamento, do<br />

governo, para que as milícias perseguissem os estrangeiros era o assassinato destes. Um “alto funcionário da<br />

República” espanhola asilado na Embaixada do Brasil informa-o de que: “Numerosos estrangeiros têm sido<br />

assassinados, porque são estrangeiros. Cito-lhe logo nove colombianos, um casal de ingleses que cometeram o<br />

feio pecado de assistir ao fuzilamento de dois frades, da janela do hotel em que se achavam hospedados; de<br />

alguns modestos italianos, porque lhes foram encontrados nos bolsos emblemas fascistas e photographias de<br />

Mussolini” (Soares d’Azevedo, 1936: 81-82). Soares também se informara de que “Alguns turistas franceses<br />

vindos de Granada foram surpreendidos em pleno campo, amarrados a uma árvore e sumariamente fuzilados,<br />

porque em poder de um deles havia sido descoberta uma medalha de Santa Teresinha do Menino Jesus”<br />

(Soares d’Azevedo, 1936: 58).<br />

357 Bruno Ayllón Pino (2004: 268), na sua tese doutoral sobre as relações diplomáticas entre a Espanha e o<br />

Brasil, observou que a procura da Embaixada do Brasil em Madri por cidadãos que buscavam a obtenção,<br />

nela, de asilo realmente aconteceu e constituiu um motivo de turbação para as relações entre ambos os países:<br />

“Cuando en 1936 estalla la Guerra Civil, la representación diplomática brasileña en Madrid, bajo la dirección<br />

del embajador Alcebiades Peçanha, se ve desbordada por pedidos de asilo y refugio de ciudadanos temerosos<br />

de represalias en la vorágine del caos en el que el país se vio sumido. La Embajada de Brasil se convirtió en<br />

objeto de atentados, boicots y bloqueos de milicianos que intentaban evitar que “desertores y elementos<br />

fascistas” alcanzasen el refugio diplomático. Desde el Itamaraty, se intentó hacer prevalecer el principio de la<br />

inviolabilidad diplomática y el de las personas asiladas en la sede de la Embajada de Brasil, lo que melló las<br />

ya de por sí deterioradas relaciones bilaterales, al entender el Gobierno republicano que la sede diplomática se<br />

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