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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Através das idades, o português adquiriu todas as virtudes necessárias para essas pelejas cruentas. E<br />

elas ficaram-lhe depois na massa do sangue, incorporaram-se-lhe á raça como um característico.<br />

Foi um mal. Nos tempos antigos eram necessárias, nos tempos modernos são redondamente<br />

prejudicais.<br />

Porque o português é hoje, no mundo, um povo desambientado. Não tem o senso da quadra que a<br />

humanidade atravessa. Ainda não percebeu que os tempos mudaram (Corrêa, 1933: 22-23).<br />

O autor sublinha que entre o brasileiro e o luso nunca houve afeição, pois esse<br />

sentimento é incompatível com a dialética entre conquistados e conquistadores e justifica a<br />

rebelião dos dominados contra os seus algozes, apesar dos laços de língua, de religião e de<br />

sangue, pela “mentalidade medieval” dos portugueses, da qual derivaram a intransigência e<br />

a intolerância que lhes impediram contornar as transformações operadas na sociedade<br />

brasileira. No confronto desatado entre as posições irreconciliáveis os brasileiros são os<br />

cabras, os bodes, os creoulos, os moleques, e os portugueses são os marotos, os<br />

marinheiros, os pés de chumbo (Corrêa, 1933: 35). O autor parodia o caráter repulsivo do<br />

lusitano dedicado ao comércio no Rio de Janeiro nos seguintes retalhos “o pé de chumbo<br />

pançudo, em mangas de camisa, à porta da venda ou do armazém, a chacotear<br />

pornograficamente o cabra ou o moleque que passa” (Corrêa, 1933: 45). “Matar<br />

marinheiros”, isto é, reagir com escárnio e soberba perante o indivíduo português,<br />

insultando-os, surrando-os e martirizando-os, adquire, para o autor, sentido em 1831 e logo<br />

passa, do ânimo de vingança por parte dos nativos com paixões jacobinas, a se conformar<br />

como um divertimento que se alastrou por “mais de dez lustros” (Corrêa, 1933: 98).<br />

O autor não precisa quando o “Mata Gallegos”, como desforra da “Noite das<br />

Garrafadas”, recebeu tal nome, mas os efeitos de tal acontecimento permitem entender por<br />

que, tanto para as filhas de Delavat, da sua posição requintada, quanto para o povaréu negro<br />

e mulato que rondava no lar do chefe da legação espanhola do Rio de Janeiro, era hábito<br />

ridicularizar o serviçal galego. Parece, pois, que as conotações aviltantes do vocábulo<br />

galego foram aplicadas aos “marotos/ marinheiros/ pés de chumbo” com o atavismo<br />

simbólico deixado pelos confrontos do 7 de abril, criando-se uma chacota ao redor do<br />

termo que se manteve indelével até a década de 1930.<br />

Gladys Sabina Ribeiro estudou a imigração portuguesa no Rio de Janeiro entre os<br />

anos de 1820 a 1930, salientando os conflitos desencadeados contra essa presença desde o<br />

antilusitanismo e o jacobinismo. Em Mata galegos (Ribeiro, 1989), ela menciona também o<br />

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