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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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seiscentista contido nesse soneto caracteriza ainda, em grande parte, o Entroido de algumas<br />

vilas e aldeias galegas. De todas as formas, não temos elementos de juízo que permitam<br />

estabelecer uma relação direta entre as celebrações da Galiza e os elementos temáticos<br />

integrantes do repertório da lírica gregoriana.<br />

No entanto, observou-se que o poeta emprega derivados do termo galego em quatro<br />

composições satíricas. Esses quatro usos servem para alastrar as incisões cáusticas sobre os<br />

destinatários. Embora a cronologia poética de Gregório de Matos ainda não tenha sido<br />

estabelecida, e em vista de suas poesias não trazerem datas, o fato do poema fescenino<br />

intitulado O Marinícolas se referir unicamente ao cenário político do governo de D. João IV<br />

permite considerar que esse poema foi escrito durante a estadia do produtor em Portugal,<br />

sendo, em conseqüência, a primeira composição gregoriana em que se introduzem as<br />

referências aos galegos. Em uma das estrofes de O Marinícolas o termo gallegas empregalaranjadas;/<br />

Enfarinhar, pôr rabos, dar risadas,/ Gastar para comer muito dinheiro,/ Não ter mãos a medir o<br />

taverneiro,/ Com réstias de cebolas dar pancadas;/ Das janelas com tanhos dar nas gentes,/ A buzina tanger,<br />

quebrar panelas,/ Querer em um só dia comer tudo;/ Não perdoar arroz, nem cuscuz quente,/ Despejar pratos,<br />

e alimpar tijelas:/ Estas as festas são do Santo Entrudo.” Adolfo Morales de los Rios Filho, em O Rio de<br />

Janeiro Imperial [1946], faz um histórico do carnaval do Rio de Janeiro, partindo do séc. XVII até a década<br />

de 1920. Ele (Morales, [1946] 2000: 372) aponta que foi aos 31 de março de 1641 quando se celebrou o<br />

primeiro carnaval carioca. Teria sido um desfile – uma encamisada – de 161 cavaleiros fantasiados –<br />

encamisados –, seguidos de dois carros ornados em que tocavam os únicos músicos então existentes na<br />

cidade, com o qual se deu início às festas comemorativas da aclamação de D. João IV ao trono restaurado<br />

português. Na sua exposição, Morales de los Rios Filho, após apontar esse primeiro dado, passa a se referir ao<br />

carnaval do séc. XIX. Assim, menciona (Morales, 2000: 372) que em 1810, durante os festejos de sete dias<br />

dos “Reais Desposórios” – o aniversário de casamento dos príncipes regentes –, na praça do Curro, no campo<br />

de Santana, a polícia permitira “vestir-se de máscara, formar danças, apresentar-se no Curro e discorrer pelas<br />

ruas públicas”, e destaca que, até a década de 1920, nos dias de carnaval desfilavam enormes bandos de<br />

tocadores de bombos, costume que ele considera que fora transplantado para o Brasil pelo sapateiro português<br />

José Nogueira de Azevedo Paredes, sendo que “como o bombo era conhecido em algumas localidades de<br />

Portugal como Zé-Pereira, o ruflar do mesmo recebeu esse nome no Brasil” (Morales, 2000: 373). No tocante<br />

ao entrudo, Morales de los Rios descreve-o com traços que o mostram como uma clara continuação do<br />

entrudo ao que se referia Gregório de Matos dois séculos antes: “ora praticado por meio de ovos e limões de<br />

cera colorida cheios de água perfumada com essências de canela e benjoim, lançados sobre os transeuntes; ora<br />

com o auxílio de seringas e bisnagas manejadas através das gelosias; ou com baldes de água suja arremessada<br />

dos corredores e vestíbulos das casas, e jarras, canecas, caçambas, bacias e demais recipientes despejados dos<br />

sobrados. E, para completar a brincadeira, eram besuntados com farinha, alvaiade ou vermelhão aqueles que<br />

já estavam molhados, sendo vítimas prediletas os de epiderme escura. As cartolas eram, por sua vez,<br />

amarrotadas a pau, dando origem a muita cabeça quebrada. Durante três dias era uma lavagem ou...<br />

emporcalhamento dos transeuntes e dos que caíam na tolice de fazer visitas. Saíam delas aguados!... Não<br />

havia quem deixasse de tomar parte no divertimento: o imperador, os príncipes, os respeitáveis ministros, os<br />

empertigados cavalheiros, as dengosas senhoritas, os pelintras, os travessos pequenotes e os endemoniados<br />

escravos. Também os estrangeiros apreciavam e praticavam com entusiasmo o entrudo, o qual foi de funestas<br />

conseqüências para Grandjean de Montigny. Com as doenças contraídas e os acidentes e incidentes<br />

provocados pela prática do apreciadíssimo encharcamento dos cariocas, houve uma reação e o Carnaval foi<br />

sendo gradativamente mais apurado” (Morales, [1946] 2000: 373).<br />

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