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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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A partir do testemunho de um jovem informante da Cabília que emigrou a Paris,<br />

Sayad examina a gênese, os motivos e os desafios da emigração em uma aldeia camponesa<br />

berbere, a criação das redes de migração, a ilusão inerente às esperanças de sucesso<br />

depositadas no lugar de destino, o convívio com outros patrícios aldeões imigrantes, o<br />

desengano no tocante à redenção econômica alcançável na elghorba na França, o<br />

fingimento de bem-estar nos retornos à aldeia de origem e a desagregação do modo de vida<br />

tradicional, que passa a ser apresentado como obsoleto e inane.<br />

Sayad sublinha que a proletarização e o abandono do trabalho rural levavam à<br />

estruturação da elghorba como único modo de vida, de tal forma que a manutenção das<br />

decadentes condições de existência na aldeia se fazia dependente das esperanças<br />

depositadas na retroalimentação que recebesse dos emigrantes. O ideal para uma família<br />

dessas aldeias da Cabília era dispor de um capital humano que lhe permitisse, ao mesmo<br />

tempo, manter alguns membros na aldeia e delegar outros na França. Os primeiros teriam<br />

que aplicar o capital econômico remetido pelos segundos em capital simbólico que rendesse<br />

o reconhecimento e a admiração da vizinhança perante o êxito dessa estratégia de<br />

sobrevivência.<br />

A elghorba é, inicialmente, planejada como temporária, mas, com freqüência, essa<br />

estadia fora da pátria torna-se contínua, com o qual o estatuto do emigrante se estabiliza.<br />

Assim, criam-se dois tipos de elghorba: o duradouro, na emigração na França, e o<br />

temporário, causado pelas esparsas estadias em férias na aldeia ou pela inadaptabilidade em<br />

um regresso provocado pela aposentadoria ou a doença. Nos discursos dos emigrantes/<br />

imigrantes da Cabília, Sayad distingue uma tripla verdade envolvendo a significação da<br />

palavra elghorba:<br />

Na lógica tradicional, a verdade da elghorba é a de ser associada ao “poente”, à “escuridão”, à<br />

distância e ao isolamento (entre os estranhos, logo à sua hostilidade e ao seu desprezo); ao exílio; ao<br />

terror (aquele que é provocado pela noite e que o faz se perder numa floresta ou numa natureza<br />

hostil); à perda (por perda do sentido de direção); à infelicidade etc. Na visão idealizada da<br />

emigração, fonte de riqueza e ato decisivo de emancipação, elghorba, intencional e violentamente<br />

negada em seu significado tradicional, tende (sem, todavia, conseguir completamente) a trazer uma<br />

outra verdade que a identificaria com a felicidade, a luz, a alegria, a segurança etc. A experiência da<br />

realidade da emigração vem desmentir a ilusão e estabelecer a elghorba em sua verdade original<br />

(Sayad, 1998: 44).<br />

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